São Paulo, sábado, 5 de abril de 1997
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Estudo busca a origem de São Paulo em nomes das ruas

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Por trás dos nomes das ruas de São Paulo pode-se encontrar muito da história da cidade e, principalmente, do povo que a construiu. É o que mostra a tese de livre-docência da professora da USP Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick, agora lançada em livro, chamado "A Dinâmica dos Nomes na Cidade de São Paulo 1554-1897".
O estudo mostra que no nome das ruas de São Paulo estão registrados o status das pessoas que aqui viveram, suas profissões, a razão da formação das ruas e becos, a descrição de rios e montes, a interferência dos idiomas dos índios e dos africanos na formação da cidade.
Maria Vicentina recorreu a mapas dos arquivos de historiadores, a atas da câmara publicadas pela prefeitura e também a testamentos para entender o quebra-cabeça do desenvolvimento dos nomes das ruas e localidades da cidade.
"Claro que também andei muito pela cidade para localizar ruas que ainda existem e entender suas formações e transformações", disse.
Enquanto os mapas auxiliavam com a localização das ruas, as atas descreviam o cotidiano da cidade. Em uma delas, datada de 1773, existe a descrição: "travessa que vae da quitanda velha para o beco que sobe para o pateo do Colegio".
Muitas ruas mudavam de nome ao longo do tempo. Em seu livro, Maria Vicentina descreve que algumas denominações eram de cunho espontâneo ou popular (como largo do Teatro, rua e/ou largo da Cadeia) que mais tarde adquiriam nome de caráter religioso e que, no século 19, ganham nomes de pessoas de importância para a cidade (praça João Mendes).
Nesse caso, João Mendes era um homem atuante politicamente e morador do local.
Como se tratava de uma sociedade patriarcal, eram raras ruas com nomes de mulheres.
Um caso curioso é o do beco Angela Vieira, trecho da rua Quintino Bocaiúva. Na sua pesquisa, a professora descobriu que o beco foi assim batizado porque Angela Vieira era uma padeira. "No século 18, quando não existia quase nada, ser padeiro era importantíssimo."
O livro começa a fazer o reconhecimento de São Paulo a partir da sua formação.
O ponto zero de São Paulo é o Pátio do Colégio. Foi ali que se formou o primeiro povoado, que mais tarde deu origem a uma vila. O modelo era equivalente ao da vila européia, com uma igreja, uma câmara dos homens bons, a cadeia e a forca.
Os caminhos começaram a aparecer a partir de 1712, quando São Paulo recebeu o título de cidade imperial, segundo a professora.

Livro: A Dinâmica nos Nomes na Cidade de São Paulo 1554-1897
Autora: Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick
Preço: R$ 25 (400 págs.)

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