São Paulo, sábado, 5 de abril de 1997
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A CONTA DO TELEFONE

O governo anunciou um tarifaço na telefonia. Em média, a alta seria de 8,3%. Sobem a assinatura básica residencial e as ligações locais.
Os 8,3% estão abaixo da inflação registrada desde o último reajuste (cerca de 15%, segundo o IGP-M). Mas essa taxa média esconde reajustes escalonados que chegam a 61% no caso do pulso local e a 20% para a ficha telefônica. As assinaturas básicas residenciais serão reajustadas em nada menos que 270,3%.
O governo diz que o tarifaço, ao permitir uma diminuição de cerca de 19% no custo médio das ligações internacionais, contribui para reduzir o custo Brasil. O argumento, muito duvidoso, revela que o custo de vida do cidadão comum não entra no Brasil dos cálculos oficiais.
A lógica inconfessada do tarifaço, entretanto, parece mais sujeita à estratégia de privatização no setor de telecomunicações que a considerações sobre o 'custo Brasil'.
Encarecer o serviço significa aumentar os lucros do sistema Telebrás e o valor das suas ações nas Bolsas, maximizando o valor de venda quando a privatização ocorrer.
Portanto, o cidadão vê-se convertido, à força, já que o Estado é monopolista no setor de telecomunicações, à condição de banqueiro ou financiador da privatização.
Vender as estatais pelo melhor preço é uma obrigação do poder público -e merece apoio. Mas o governo não mostra interesse por uma estratégia alternativa: aumentar o valor das "teles" reduzindo custos, aumentando a eficiência. Principalmente considerando-se que, desde 94, os lucros da estatal subiram cerca de 180%. Ganham especuladores nas Bolsas e ganha o Estado, mas cresce o fosso entre o custo de ser cidadão e os benefícios dessa condição.
Banqueiros à força, deverão continuar apenas torcendo para que, um dia, os serviços tenham qualidade e existam em quantidade suficientes, sob um regime de concorrência e não sob o império de um monopólio a cada dia mais intolerável.

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