São Paulo, sábado, 5 de abril de 1997
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A VERDADE SOBRE PITTA

A quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de secretários e ex-secretários da Fazenda de Estados e municípios sob investigação, decidida ontem pela CPI do Senado, pode esclarecer o envolvimento deles com as irregularidades já reveladas.
Até agora, a maioria governista logrou impedir, lamentavelmente, que a Câmara Municipal de São Paulo criasse uma CPI para apreciar os fatos trazidos a público pelo Senado. A quebra do sigilo de Pitta será uma oportunidade de avançar na investigação. Deve ser apurada, de forma definitiva, sua inocência ou culpa.
O maior interesse de senadores da CPI pela situação do Paraná e a circunstância de que a sucessão municipal ocorreu quando a CPI ganhava impulso permitiram, até agora, que o escândalo não atingisse o prefeito Paulo Maluf do mesmo modo que o tem feito com os governadores.
Paulo Afonso e Miguel Arraes admitiram ter desviado os recursos dos precatórios para outras finalidades. Maluf nega que o mesmo tenha se passado em sua gestão. Mas o Tribunal de Contas do Município afirma que o ilícito ocorreu.
As suspeitas de apropriação indébita do dinheiro público, no caso dos Estados, devem-se, entre outros indícios, aos enormes deságios aceitos no lançamento dos títulos. Segundo rastreamento feito pela CPI, fato análogo ocorreu em São Paulo.
Em 27 de setembro de 95, Pitta ordenou a venda de um lote de títulos ao Banco Vetor por R$ 70 milhões. No mesmo dia, o Bradesco estava disposto a comprar -e de fato comprou- esse mesmo lote por R$ 73,968 milhões. Esses quase R$ 4 milhões de deságio transformaram-se em lucros do Banco Vetor e de pequenas distribuidoras.
A situação política de Maluf e Celso Pitta talvez seja menos desconfortável que, por exemplo, a do governador Paulo Afonso. Mas os indícios, os tipos de operação e as infrações à Constituição tornam-se cada vez mais semelhantes. A quebra do sigilo bancário é um passo acertado e já tardio no sentido de levar a cabo o necessário esclarecimento dos fatos.

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