São Paulo, sábado, 5 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Necessidade, firmeza e lucidez

ARTHUR VIRGÍLIO NETO

Vou fazer afirmação que deixará "ruborizados" aqueles opositores do Proer que se marcam por argumentos até indigentes: dos pontos de política econômica do governo FHC, um dos que mais me dá orgulho de defender é, precisamente, o Programa de Reestruturação do Sistema Financeiro Nacional.
Admiro-o pela consistência, e, sobretudo, pelo que representa de defesa do interesse nacional. Afinal, um sistema bancário que careça de solidez e não preserve a confiança na solvência, na liquidez e na certeza das transações bancárias é causa certa do fenômeno da desintermediação e da desconfiança na moeda interna.
Somente os néscios desconhecem que moeda inconfiável é prenúncio de desmontagem do sistema de pagamentos, pois os credores vêem esvair-se seu crédito, por inexistirem meios ágeis e eficazes de cobrança; os poupadores não têm a quem confiar seus recursos; as empresas não encontram crédito para financiar negócios futuros, e a economia, fechando o círculo vicioso, perde dinamismo e vitalidade.
A necessidade de arcabouço financeiro sólido para sustentar o desenvolvimento econômico e social é grande desafio que os governos enfrentam, em plena época de integração dos mercados regionais e globalização dos movimentos do capital.
Crise bancária, se não prevenida com energia, é caudal que transtorna qualquer governo. A Venezuela perdeu 17% do PIB no processo de ajuste do seu sistema bancário. A Argentina, 13%. O Chile, 19,6%. Os EUA, até agora, US$ 150 bilhões. O Japão, mais de US$ 300 bilhões... e o Brasil, em torno de 1% apenas, o que revela a justeza do Proer.
Os derrotistas decepcionaram-se com a firmeza no trato da questão. Desde o período Itamar o então ministro FHC sabia que a moeda sólida evidenciaria os problemas de liquidez e os desequilíbrios patrimoniais daquelas instituições que tivessem retardado a solução de problemas estruturais como insuficiência de capital, excesso de imobilização, baixa rentabilidade de ativos e inadequação da estrutura de custos.
Os investimentos do programa, que nascem do empréstimo compulsório dos bancos, não se fazem em prejuízo da saúde e da educação, porque a Constituição proíbe que o Banco Central empreste aos governos, exatamente para evitar a indisciplina fiscal, que é mãe da inflação, sócia da corrupção e irmã do populismo.
Os empréstimos -e não as "doações", pelo amor de Deus, srs. "ruborizados"- do Proer destinam-se a dar liquidez a relações de crédito já existentes, dentro de parâmetros de controle adequados, como é função de qualquer Banco Central que se pretenda sério.
O Proer, que não se destina a banqueiros, mas aos cidadãos, é, enfim, forte proteção à economia como um todo, criticado pelos que, não tendo bandeira concreta de luta, aferram-se à demagogia e ao simplismo, que os descredenciam perante a nação.

Texto Anterior: Relevante interesse público
Próximo Texto: Saúde em dia; Violência em Diadema; Informação omitida; Oferta; Crítica desinformada; PAS; Grande negócio; Outro disco; Esclarecimento; Fanatismo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.