São Paulo, sábado, 5 de abril de 1997
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A matemática do coronel

MAURICIO STYCER

São Paulo - Com a tranquilidade que se espera de um homem que carrega um Carandiru na costas, o coronel Ubiratan Guimarães, deputado estadual pelo PSD, já pontifica como a maior estrela da CPI criada para investigar (?) as atrocidades cometidas pela Polícia Militar de Diadema.
Comandante da ação que resultou no assassinato de 111 presos da Casa de Detenção, em São Paulo, em 1992, o coronel Ubiratan tem se revelando um grande especialista em números.
Denunciado pelo Ministério Público como responsável por essas 111 mortes, ele é o principal réu do processo e, em tese, pode ser condenado a uma pena de 3.300 anos de cadeia.
Diante desses números, o coronel Ubiratan montou a seguinte equação: o homicídio, exibido na TV, de Mário José Josino por um PM de Diadema é o "Carandiru de Mário Covas".
Para ajudar o leitor que é ruim em matemática, o coronel Ubiratan acrescentou algo à equação: "A diferença é que 50% da população apoiou a ação da PM no Carandiru e ninguém apoiou a ação em Diadema".
Seguindo o raciocínio matemático do coronel Ubiratan, é possível pensar que ele está sugerindo duas coisas: 1) se tivesse alcançado a cifra de 222 mortos no Carandiru, o índice de apoio à sua ação talvez chegasse a 100%; 2) a população desaprovou a ação da PM em Diadema porque o número de mortos não passou de um.
O coronel Ubiratan terá a oportunidade de desenvolver o seu raciocínio matemático pelos próximos 90 dias -tempo de duração da CPI da Assembléia Legislativa de São Paulo.
Vai poder somar e subtrair números sobre a violência da PM com outros especialistas nessa matemática, todos deputados estaduais e integrantes da CPI, como o coronel reformado Erasmo Dias, que comandou a invasão da PUC em 77, que resultou em 1.700 presos e muitos feridos. Ou com o ex-comandante da Rota Roberval Conte Lopes, que ao longo de sua carreira diz ter matado "mais de cem" pessoas.
Se ainda não batizaram a CPI, aí vai uma sugestão: CPI dos Coronéis.

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