São Paulo, sábado, 5 de abril de 1997
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Tempos de farra

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Leitores me escrevem e telefonam reclamando que ainda não dei palpite nessa história dos precatórios. Estão, como sempre, cobertos de razão. Ainda não tive sensibilidade bastante para me emocionar ou indignar com essas roubalheiras. Faço péssimo juízo dos políticos como um todo. No meu fraco entender, são capazes de tudo, desde pisar o pescoço da mãe (a dos outros e a própria) até roubar em proveito do bolso ou da carreira.
A democracia representativa, ao virar o milênio, terá de enfrentar e resolver esse paradoxo: a representação passa por uma campanha de representatividade, a campanha custa cada vez mais caro e os candidatos, em princípio, não são ricos o bastante para gastar o que gastam quando decidem salvar o país.
A corrupção, o suborno, o financiamento a causas ideológicas ou não, em variado grau de visibilidade, funcionam como lubrificante e combustível desse motor democrático. Itamar Franco, eleito vice numa chapa perdulária, deve ser uma exceção. A campanha do atual presidente foi tão cara (ou mais) do que a de Collor. Mais cara que as duas juntas foi a do presidente Clinton, dos Estados Unidos, sobretudo na sua reeleição.
De uma forma ou outra, quem acaba pagando a fatura das campanhas é o contribuinte. Até que a palavra é bem empregada: nós todos "contribuímos", direta ou indiretamente, para os candidatos, desde os jatinhos até os santinhos. Contribuição democrática, pois se damos um óbulo para o nosso candidato, o fisco nos tira muito mais para formar aquilo que impropriamente é chamado de tesouro nacional.
E é justamente o tesouro nacional formado pelos nossos impostos que acaba pagando a farra. No caso do atual governo, além da farra da campanha houve a farra do Proer. Uma CPI em cima desses bancos falidos tornaria os precatórios simples aperitivo.

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