São Paulo, domingo, 6 de abril de 1997
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Itabira luta contra dependência da Vale

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ITABIRA

O processo de venda da Companhia Vale do Rio Doce está provocando medo na população de Itabira.
A cidade mineira, onde está a primeira mina de extração de minério de ferro da estatal e o início da sua história, depende da Vale há 55 anos.
A empresa é a principal fonte de emprego de Itabira (111 km a leste de Belo Horizonte). Além disso, garante 95% da arrecadação de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), a principal receita do município.
O desemprego é o fator que causa maior temor na população. Além disso, o município teme que o novo comprador priorize a extração de ouro no norte do país e deixe o minério de ferro em segundo plano, o que seria o caos para as finanças da cidade.
A Vale garante 74% da arrecadação total de Itabira (com o ICMS e os royalties), além de contratar cerca de 2.600 funcionários, mais 1.300 terceirizados e outros 1.600 prestadores de serviço.
A cidade tem 95.229 habitantes, segundo dados preliminares do censo 96 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Emprego
Considerando a média de quatro pessoas nas famílias desses trabalhadores dependentes diretamente da estatal, são aproximadamente 22 mil habitantes que dependem da Vale, ou 23% da população.
Com os empregos indiretos essa dependência tende a aumentar significativamente, já que a presença da Vale na cidade é que faz movimentar o comércio local.
Itabira não dispõe de dados sobre a sua população economicamente ativa e a taxa de desemprego. Mas o balcão de empregos da prefeitura tem cerca de 7.200 pessoas cadastradas, em busca de uma colocação no mercado de trabalho.
A Vale nega que vá haver demissões em massa, mas não descarta algumas mudanças na empresa (leia texto nesta página).
A preocupação dos funcionários tem algum sentido, já que, após a privatização das siderúrgicas mineiras Usiminas, Açominas e Acesita, houve, em média, a demissão de 35% dos trabalhadores, mesmo tendo essas empresas demitido antes da privatização, como é o caso da Vale.
Medo e silêncio
Os funcionários da Vale não escondem o medo do desemprego, por isso são contra a privatização.
Mas poucos falam abertamente sobre isso. A maioria teme alguma represália por parte da empresa no futuro.
"O trabalhador está apreensivo, acuado", afirma o presidente do sindicato dos mineradores da Vale (Metabase), filiado à CUT, Milton Bueno.
"Que vai mudar muita coisa, vai. O que vai mudar é que não sabemos. Se houver demissões, onde iremos trabalhar?", disse um empregado do setor de transportes enquanto debatia o problema com outros funcionários.
José Nilson Meireles, 47, que está há 21 anos na Vale, é um dos poucos que não se incomodou em falar abertamente sobre as perspectivas de privatização.
"Aqui não tem ninguém achando que as coisas vão melhorar. Itabira vai perder muito, vai acabar. Vai se chamar cidade dos aposentados forçados", afirmou.
"Eu sempre penso nisso (demissão). Para mim, falta um ano e nove meses para a aposentadoria -se não mudar a lei-, mas e os outros, o que vai acontecer com eles?", indaga José Sérgio Fernandes, 45 -há 23 anos na Vale.

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