São Paulo, domingo, 6 de abril de 1997
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TECNO

CÁSSIO STARLING CARLOS
EDITOR-ADJUNTO DO MAIS!

o futuro acelerado

Quase uma década depois do seu big-bang, ocorrido no verão de 89 em Londres, a música tecno ameaça dominar o mundo. A proliferação de subgêneros e de fusões entre as variantes da música eletrônica está sendo comparada à revolução musical do rock'n'roll nos anos 50. Música física, como o rock, o tecno se diferencia deste ao dispensar instrumentos tradicionais e utilizar exclusivamente máquinas digitais para criar "soundscapes" ("paisagens sonoras") sintéticas. "Samplers", computadores, baterias eletrônicas e "gadgets" digitais são os instrumentos utilizados por músicos que pretendem estar compondo a trilha sonora do futuro. A aceleração é seu princípio essencial. O efeito "bate-estaca" (definição usual do tecno) provém da velocidade dos BPMs (batidas por minuto) que marca o compasso das canções. A regra do "faça você mesmo", que já deu origem à explosão do punk há 20 anos, repete-se no caso do tecno. No lugar dos custos exorbitantes de produção do rock e do pop, o tecno optou pela produção em estúdios domésticos e distribuição alternativa. Em vez dos mega-astros, o tecno praticamente não tem faces reconhecíveis. No lugar de letras portadoras de mensagens, o tecno rompeu com sua necessidade e praticamente não utiliza vocais. A própria idéia de autoria das canções é difícil de ser utilizada neste caso, já que os músicos tecno preferem métodos de colagem, como o sampler. Assim, o DJ deixa de ser apenas um hábil executor e adquire funções e status de criador. Musicalmente, o tecno distancia-se das facilidades do pop ao eleger como referências as experimentações da vanguarda eletrônica feitas por Edgar Varèse (1885-1965) e Karlheinz Stockhausen (leia entrevista com o compositor feita pela cantora Bjõrk à pág. 5-7). O público que consome a música tecno, maciçamente na Europa e de forma esparsa pelo resto do mundo, encara a música como um veículo de comunhão. As "raves", grandes festas que reúnem milhares de jovens -como a Love Parade em Berlim e o festival Tribal Gathering em Londres- são comparadas a ritos religiosos tribalistas que propiciam a liberação de forças mentais e físicas por meio da dança. Contra os rigores contemporâneos, como desemprego, racismo e atomização social, os jovens fãs de tecno reúnem-se para compartilhar a diversão e proclamar ideais como "amor", "paz" e "unidade". Como no psicodelismo do movimento hippie dos anos 60, estas experiências frequentemente estão associadas ao consumo de drogas -Ecstasy à frente, uma droga sintética que libera a produção de serotonina e dopamina, substâncias que atuam na transmissão de mensagens entre as células do cérebro, provocando sensação de euforia. Acredite-se ou não em seus lemas e experiências, o importante é que a influência do tecno avança. Executivos da indústria do disco nos EUA discutem agora como capitalizar o fenômeno para alimentar um novo ciclo de produção e consumo. Nas últimas semanas, artigos de iniciação aos segredos do tecno foram publicados em revistas influentes na cultura do entretenimento norte-americana, como a "Rolling Stone" e a "Entertainment Weekly". Mas será possível amenizar as catástrofes sonoras do tecno a ponto de torná-lo uma nova música para as massas? E expandir os muros fechados do underground para fazer dele um novo parque de diversões?

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