São Paulo, domingo, 6 de abril de 1997
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Eleição na Argentina é prévia para 99

RODRIGO BERTOLOTTO
DE BUENOS AIRES

Presidenciáveis e políticos novatos são as estrelas da eleição legislativa deste ano na Argentina, uma prévia para a escolha presidencial, daqui a dois anos.
Na verdade, a renovação da metade dos deputados define como o peronismo (situação) e os partidos de oposição vão chegar a 1999.
A importância da eleição de outubro pode ser avaliada pela quantidade de personalidades que foram convidadas a se candidatar: a filha do presidente, Zulemita Menem, a cantora Mercedes Sosa e os ex-pilotos de F-1 Carlos Reuteman e de motonáutica Daniel Scioli.
E um duelo feminino deve ser o principal atrativo da eleição dos deputados da Província de Buenos Aires, área que concentra 38% da população, dos votos e da representação parlamentar do país.
A principal Província, que não inclui a capital federal, definiu todas as eleições presidenciais e é tradicionalmente um reduto do Partido Justicialista (peronista).
Por um lado, está a senadora Graciela Fernández Meijide, presidenciável pela Frepaso (Frente País Solidário), conglomerado de partidos de esquerda.
Ela trocaria o cargo no Senado pelo da Câmara, apostando que uma nova campanha aumentaria sua popularidade.
Sua adversária deve ser Hilda "Chiche" Duhalde, mulher do governador de Buenos Aires e provável apadrinhado de Menem à Presidência, Eduardo Duhalde.
"Chiche" Duhalde ainda não assumiu sua candidatura, apesar da pressão presidencial, matrimonial e das pesquisas de opinião, que dão seu nome como a única opção para derrotar Meijide.
As duas, que liderariam a lista de deputados de seus partidos, terão ainda no páreo um candidato da União Cívica Radical, que deve ser o ex-presidente Raúl Alfonsín, que sonha em voltar a Casa Rosada.
Manzaneras
A escolha de candidatos inusitados responde a um fato.
O peronismo busca que não se repita com ele o que aconteceu com o radicalismo em 1987: uma derrota em uma eleição legislativa que fez o governo Alfonsín desmoronar em uma hiperinflação, que o obrigou, ao final, a entregar às pressas o cargo.
A senhora Duhalde garantiria que a redução de cadeiras para o peronismo, calculada entre seis e dez, não seja tão acentuada.
Comandando um orçamento anual de US$ 200 milhões, Hilda Duhalde capitaliza o trabalho das 40 mil manzaneras, voluntárias que distribuem leite e cereais para mais de 600 mil pessoas -grávidas e crianças de até cinco anos.
O Plano Vida, fórmula copiada do governo chileno de Salvador Allende, tenta desde 1994 reduzir o índice de mortalidade infantil.
A oposição denuncia que as manzaneras (de manzana, quarteirão em espanhol) são cabos eleitorais da primeira-dama.
"Alguns políticos tentam sujar uma das coisas mais lindas do mundo. Não há nenhuma intenção política em minha equipe", responde a senhora Duhalde.
Cada manzanera é responsável por dois quarteirões em seu bairro. Elas participam de atos públicos em que esteja a senhora Duhalde.
"Agora, em tempos eleitorais, percebem que eu existo e querem colocar pedras em meu caminho", afirma a "primeira-dama".
O assistencialismo é a base da popularidade do marido de Hilda em sua corrida para a Presidência.
Mas Eduardo Duhalde cada vez mais se mostra independente da política de seu padrinho Carlos Menem, que o provoca com a idéia de uma segunda reeleição.
Financistas e empresários inflam a proposta de um terceiro mandato seguido de Menem, preocupados com a aproximação de Duhalde dos sindicalistas e das privatizações em ritmo lento.

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