São Paulo, domingo, 6 de abril de 1997
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Empregado japonês se mata após pressão para se demitir

The Independent de Londres

RICHARD LLOYD PARRY
EM TÓQUIO

Masayuki Sawada era um homem tímido e sério, pouco dado a fazer declarações solenes, mas na manhã em que morreu, telefonou para casa para dar uma notícia drástica. Aos 28 anos de idade, ele pedira demissão do emprego.
Uma decisão dessas não se toma impensadamente no Japão, onde a tradição de "emprego vitalício" impõe tantas obrigações aos funcionários e a seus patrões.
Mas a vida de Sawada no trabalho se tornara insuportável. Meses antes, seu chefe lhe havia pedido um empréstimo para fazer uma viagem às Filipinas. Outros funcionários começaram a pedir somas menores e Sawada os atendia.
Parece que o fato de se dispor a ajudar seus colegas os levou a desprezá-lo. Nunca lhe pagaram os empréstimos. A situação se agravou ainda mais quando descobriu provas de que seu patrão estava roubando da própria empresa.
Sawada teve uma discussão amarga com ele. No dia 20 de junho, demitiu-se e telefonou para a mãe, contando o fato. Meia hora depois, concretizou a expressão "emprego vitalício". Enforcou-se com uma corda de borracha.
O Japão passa por estagnação econômica que exerce pressões inabituais sobre as empresas. Elas têm de demitir, mas não querem assumir os custos econômicos e de imagem que uma demissão implica. Assim, optam por intimidar os funcionários para que se demitam.
As formas de pressão são muitas. Um funcionário contou que era tratado como se fosse invisível; nunca lhe avisavam das reuniões, e às 15h, quando as copeiras distribuíam chá, passavam por ele sem lhe dirigir a palavra. Outro foi forçado a reescrever o mesmo relatório quinzenal por meses a fio.

Tradução de Clara Allain

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