São Paulo, domingo, 6 de abril de 1997
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Em busca da fonte da juventude

ALEXANDRA OZORIO DE ALMEIDA; GABRIELA MICHELOTTI

Mulheres encontram em homens mais novos alternativa aos "cansados" de meia-idade
POR ALEXANDRA OZORIO DE ALMEIDA E GABRIELA MICHELOTTI
"-Vamos lá?"
"-Claro, vamos embora."
O diálogo, quase telegráfico, explica por que algumas mulheres procuram homens mais novos para namorar. Elas dizem que a disposição dos rapazes é muito maior do que a dos "maduros", que estão sempre dando desculpas.
A promoter Perla Nahum, 43, esclarece melhor a "teoria do vamos". "É incrível. Se você chega para um cara de 40 e tantos anos, estressado, e propõe 'vamos fazer alguma coisa', ele fala do carro quebrado que está na oficina, do cansaço no trabalho ou de qualquer outro probleminha que acaba virando um drama. Já gente mais nova topa tudo, o retorno é muito bom."
Entre 1995 e 96, Perla namorou por 15 meses o modelo Ricardo Bonomi, que tinha metade da sua idade. "O jovem tem os olhos de quem vê o mundo pela primeira vez. Tudo é mais vibrante, mais vital. Eles são receptivos: devolvem as coisas com uma intensidade muito maior."
Ela diz que não guarda mágoas, mas não revela por que o relacionamento acabou -o segundo com rapazes (ela já tinha namorado um advogado 12 anos mais novo).
Marcela Ahouagi, 43, diretora-comercial da loja de roupas para crianças Giovanna Kupfer, é outra seguidora da "teoria do vamos". Ela namora há quatro o biomédico Herton Ribeiro, 36.
"O melhor do relacionamento com homens mais novos é o divertimento. Eles jamais dão corda para a sua deprê", afirma a diretora.
Marcela acredita que deve "haver, escondido no inconsciente, um desejo de resgate da juventude". "Querendo ou não, um homem mais novo lhe traz aquela vitalidade que você sente que está perdendo depois de uma determinada idade."
As estatísticas provam que Perla e Marcela são exceções. Do total de casamentos em 1995, 19% foram de homens dez anos mais velhos que suas mulheres. Os casos contrários -noivas maduras com rapazes dez anos mais novos- representam apenas 2% dos matrimônios (veja tabela na pág. 12).
Os dados do IBGE mostram que naquele ano, por exemplo, apenas 193 mulheres entre 45 e 49 anos casaram-se com homens de 25 a 29 anos. Já os exemplos opostos -ele com 45 e ela com 24- foram 1.297: uma diferença de 672%.
Namorado da filha
As que fogem à regra enfrentam o preconceito -de homens e mulheres- e situações constrangedoras. A deputada federal pelo PT de Minas Gerais, Sandra Starling, 53, é casada "até no papel" há 15 anos com Thales Chagas Machado Coelho, 37, advogado.
"Quando o conheci, tinha 37 anos, e ele, 21. Eu era divorciada com três filhos. Às vezes, quando saíamos na rua, achavam que ele era namorado de uma das minhas filhas", lembra a deputada.
Mesmo juntos há tanto tempo, a diferença de 16 anos entre os dois ainda causa "saias justas".
"No ano passado, o Thales entrou com um mandado de segurança sobre a CPI dos Bancos, a pedido do senador Antonio Valadares (PSB-SE). Depois, o senador me encontrou, e comentou: 'aquele menino, seu filho, fez um trabalho maravilhoso, fiquei encantado'."
Sandra explicou que o "filho" era na verdade marido e ficou observando o senador "ficar vermelho". "Ele ficou muito sem graça, mandou pedir mil desculpas. Mas eu não me importo, isso não me afeta mais", conta a deputada, rindo.
Perla diz que esse tipo de relação desperta uma análise baseada na "lei de Gerson". "As pessoas querem saber quem está levando vantagem. Sempre acham que o mais velho deve estar satisfeitíssimo, muito bem servido, e o mais novo é o gigolozinho que está arrancando o dinheiro do parceiro ou se aproveitando da sua influência."
Ela conta que as amigas fazem comentários maldosos, do tipo "você está com a pele ótima ultimamente".
Marcela concorda: "Acho que há muito preconceito com esse tipo de relação. A sociedade cria um condicionamento, um 'assim é aceitável, mas assim não é'. Quando você chega com uma contra-norma, provoca impacto. Desperta muita inveja, algumas no bom sentido. Tem amiga que fala: 'pô, eu não conseguiria fazer isso, te invejo'".
O próprio preconceito foi a maior barreira encontrada por Wanira Salles, 49, gerente de negócios da Francal Feiras e Empreendimentos, há um ano morando com o argentino Alejandro Alvarez, 38, representante no Mercosul de produtos argentinos.
Wanira foi casada por 14 anos, ficou viúva e viveu sozinha durante dez anos, criando suas duas filhas. Quando conheceu Alejandro, não falaram de idade.
"Só descobrimos a diferença depois que começamos a namorar. Eu travei, não queria continuar. Quando chegávamos em alguns lugares, eu soltava da mão dele."
A gerente diz que era muito preconceituosa. "Mas o Alê tem uma cabeça ótima, morou dez anos na Europa, tem outros valores. Foi ele quem mais se esforçou para ficarmos juntos."
Wanira contou com o apoio das filhas e de amigos. "Achei que eles iam me crucificar, mas aconteceu o contrário. Eles diziam para eu deixar de lado o preconceito. Acham que eu mereço ser feliz, e que a diferença nem aparece", diz.
Leite Ninho
Os "jovens namorados" -apelidados pejorativamente de "franguinho", "leite Ninho", "investimento na poupança", "fonte da juventude"- também sofrem com a desconfiança dos outros.
O modelo e empresário Julio Vieira, 35, dono do pizza-bar Passarela, nos Jardins, sentiu a rejeição dos amigos quando começou a namorar a pintora e empresária Suzy Boainain, 45, hoje sua sócia.
"Percebia que os amigos dela tinham um pé atrás por eu ser mais jovem. Sei que eles diziam para ela tomar cuidado comigo, principalmente por causa da minha profissão, de modelo. Mas não dei importância, e agora é mais relaxado", conta.
Para Suzy, o importante é que os dois realmente querem estar juntos. "Não ligo muito para o que os outros dizem. Não deixo que as pessoas de fora atrapalhem o nosso relacionamento. O importante é viver o momento."
Desde que ficou viúva há quatro anos, a empresária só tem saído com homens mais novos. Ela acha que atrai rapazes porque é "madura, conhece a vida e tem uma conversa mais adulta".
Do corpo, Suzy cuida obsessivamente. Ela faz três horas e meia de ginástica por dia, com um personal trainer, só come o que quer uma vez por semana e mantém a cor da pele escura com sessões de bronzeamento artificial.
A colunista social Vera Martins, 45, que já namorou cinco homens mais novos, faz uma análise mais freudiana dessa atração. Para ela, quem procura mulheres mais velhas está projetando a imagem da mãe. "Quando o homem gosta demais da mãe, procura mulheres mais velhas, já que não pode ter nada com a própria. Somos mãe, amante e irmã ao mesmo tempo."
Ela afirma que o seu próprio caso é freudiano. "Adorava caras mais velhos. Mas, depois que o meu pai morreu, não posso nem ver um homem de cabelo branco. Agora sou ligada a mais novos. A gente amadurece", acredita.
McDonald's X Bistrô
Mesmo tecendo elogios fervorosos a esses relacionamentos, as mulheres afirmam que a defasagem de idade transparece em certas diferenças de gostos -a começar pela música.
"Temos pouquíssima afinidade musical. Ele gosta de rock pauleira, e eu já sou totalmente Mozart ou Enya (world music). É uma piada. Filmes culturais, cabeça, ele definitivamente não gosta -prefere ação e aventura. Herton é chegado em um McDonald's, e eu prefiro um prato francês. Ele adora motocross, e eu sou mais uma Mercedes", diz Marcela.
Para a diretora, o fato de terem gostos opostos é bom. "Com essas divergências, a gente não cai no tédio. As diferenças são enormes, implacáveis, mas você tem de conviver com elas, senão vira um caos. Compenso esses meus gostos e preferências com meus amigos, divido com eles."
Wanira também tem "divergências musicais" com Alejandro. "O gosto musical dele parece com o das minhas filhas: ele adora rock. Mas a gente acaba ouvindo de tudo."
Foi Thales quem apresentou os Beatles a Sandra Starling. "Eu não conhecia o grupo, porque naquela época estava criando filhos. Por outro lado, eu adoro rodadas de samba e ele detesta", conta a deputada.
No casal Suzy-Julio, ela gosta de jazz, música clássica e pagode, enquanto ele prefere Sade e George Michael.
Outro problema é na hora de assistir televisão. "Alejandro odeia novela e eu gosto. Ele só gosta de programas do Travel Channel. Mas a gente entrou em um acordo: ou um cede um pouco ou cada um vai para a sua TV. Filmes também são um problema: adoro filme romântico e ele odeia", conta Wanira.
Na cama, elas dizem que as diferenças acabam. E todas concordam com a "teoria do vamos", das vantagens do vigor juvenil em contraste com o "tédio existencialista" da meia-idade.
"Sexo? É o máximo. Eles têm uma energia infindável, são muito saudáveis, prontos a toda hora. Até brinco que estou ficando velha, porque não aguento acompanhar o cara. Nesse aspecto, vou te falar: é muito bom, muito melhor. Esse 'virou dormiu' do homem mais velho não existe. Virou, leva palmada. É demais", recomenda Marcela.
A comerciante Vera Castro, 50, que só namora homens mais novos (um deles tinha 11 anos a menos), concorda. "Com homens maduros, temos de dar uma ajuda, animar; os mais novos já estão prontos. Além disso, eles querem aprender e não têm vergonha de perguntar."

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