São Paulo, terça-feira, 8 de abril de 1997
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Depoimento do presidente do Bradesco racha a CPI

ALEX RIBEIRO
FERNANDO GODINHO

ALEX RIBEIRO; FERNANDO GODINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Relator e sub-relatores divergem sobre atuação de bancos

O depoimento do presidente do Bradesco, Lázaro de Mello Brandão, rachou a CPI dos Precatórios sobre a suposta participação dos grandes bancos no esquema dos títulos públicos.
Na cúpula da comissão, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) ficou isolado na defesa da tese de que funcionários dos bancos integram o esquema. De outro lado, ficaram os dois sub-relatores.
"O vendedor inicial é o verdadeiro responsável pela cadeia da felicidade", disse o senador Vilson Kleinubing (PFL-SC).
"Se o Bradesco tivesse conhecimento da cadeia da felicidade, não teria participado", disse o senador José Serra (PSDB-SP).
Cadeia da felicidade são as sucessivas compras e vendas de títulos que empresas do esquema fazem entre si para fabricar lucros.
A divisão entre os senadores permaneceu após o depoimento dos dirigentes do Banco Multiplic.
"Minha convicção é que a cadeia da felicidade não foi feita pelo último comprador", disse Kleinubing durante o depoimento de Antônio José de Almeida Garnero, ex-presidente do Multiplic.
Para Requião, a operação feita pelo Multiplic é igual às de outros bancos. Pagou um preço superior ao que poderia ter pago.
Para Requião, a cadeia da felicidade não seria possível se não houvesse a garantia de que um grande banco compraria o papel no final.
"Ficou muito difícil para o Bradesco explicar os lucros, o roubo na cadeia", disse Requião. Segundo ele, "roubo" é o jargão usado pelo mercado para denominar as operações fictícias com títulos.
A tese é compartilhada pelos senadores Romeu Tuma (PFL-SP), que monitora as investigações da Polícia Federal e acredita que funcionários dos grandes bancos estão envolvidos nas fraudes, e Jader Barbalho (PMDB-PR). "Não tenho dúvida que o Bradesco ou alguém dentro do banco participou da operação", disse Barbalho.
Kleinubing é menos convicto da culpa dos bancos do que da dos fundos de pensão. "Descobrimos que os fundos de pensão compraram por preços acima da média de mercado. Os bancos compraram pelo preço certo", disse.
Relatório
Requião tem repetido que o relatório final da CPI será escrito em conjunto com os dois sub-relatores. Mas, durante a crise vivida pela CPI na semana passada, chegou-se a estudar a elaboração de um relatório paralelo.
Na semana passada, o presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães, se reuniu com os integrantes da CPI. Um dos objetivos foi assegurar a participação dos sub-relatores na elaboração do texto final.
Requião disse que as críticas ao seu trabalho só começaram depois que grandes bancos e financiadores de campanhas eleitorais começaram a ser investigados.

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