São Paulo, terça-feira, 8 de abril de 1997
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Paulo Moura pratica lições de Pixinguinha

SYLVIA COLOMBO
DA REDAÇÃO

Paulo Moura não era mais que um jovem clarinetista formado em bailes de gafieira que acompanhava orquestras de bailes quando conheceu Pixinguinha. A faceta alegre da obra do compositor que Moura hoje perpetra vem da recordação daqueles serões.
"Pixinguinha tocava na noite por brincadeira, e fazia, nos salões, música dançante e alegre", disse Moura em entrevista à Folha, por telefone, de sua casa, no Rio.
O CD "Pixinguinha", em que Paulo Moura e os Batutas percorrem o repertório popular do músico carioca Alfredo da Rocha Viana Filho (1897-1973), foi gravado ao vivo no teatro Carlos Gomes, no Rio, em agosto do ano passado.
O disco, em homenagem ao centenário de Pixinguinha, comemorado neste ano, reúne o repertório mais popular do músico. "É um disco festivo, por isso não busquei um repertório mais complexo."
Apesar de fiel aos registros, Moura fez novos arranjos na estrutura tradicional de seus choros. "O choro tradicional é previsível, pois sua estrutura é muito rígida. Tentei modernizar mudando o andamento e incrementando a percussão", diz. E complementa achando que os puristas "vão achar que isso não é choro, mas a disposição melódica é a mesma".
Na verdade, a interpretação da obra de Pixinguinha é muito flexível. O compositor trabalhava basicamente a melodia, pois escrevia a partir da flauta. Os registros que sobraram de sua obra não dão conta de como deviam atuar os instrumentos de acompanhamento e percussão, violão, cavaquinho e pandeiro.
Para Moura, o principal legado de Pixinguinha é a noção de variação musical. Seus choros, diferentemente do que o que se fazia em sua época, eram compostos em três partes (três temas melódicos). "A transição de uma para outra traduzia a sua genialidade, aliando a rítmica a essas passagens com muita técnica".
Moura diz que "Pixinguinha" nasceu com a intenção de ser um disco popular e lamenta o fato de as rádios já não se interessarem mais por música instrumental. "As coisas eram mais fáceis naquele tempo, porque as rádios tocavam música instrumental". Pixinguinha foi um dos favorecidos pela expansão e pela proliferação das rádios nos anos 50.
Moura diz estar entrando numa nova fase, em que deixa o jazz um pouco de lado e se entrega à música brasileira. "Senti que estava me afastando de uma música que adorava, e isso me entristecia."

Disco: Pixinguinha
Com: Paulo Moura e Os Batutas
Lançamento: Velas
Preço: R$ 20, em média

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