São Paulo, terça-feira, 8 de abril de 1997
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Músico opta por leitura moderna

SYLVIA COLOMBO
DA REDAÇÃO

O chorinho passou décadas engessado em sua própria estrutura harmônica. Paulo Moura representa uma tendência de modernização que nasceu no final dos anos 60 com Radamés Gnatalli (1904-1988), com a Camerata Brasileira e, posteriormente, com o violonista Raphael Rabello (morto em 1995).
Em "Pixinguinha" fica claro o caminho encontrado por essa frente para sua modernização.
O acompanhamento da percussão é um exemplo. No choro tradicional, era feito com o pandeiro. Moura trouxe do pagode uma tríade que enriquece a batida: além do pandeiro, o tan-tan e o repique.
Outro fator está na aceleração, que dá mais vigor à interpretação. Por fim, um revezamento amplo de solistas, que se limitavam a dois ou três instrumentos no choro clássico.
Moura prova que, apesar de sua estrutura harmônica austera, o choro pode ser flexionado, desde que não atente contra a linha melódica e o contraponto (princípio introduzido por Pixinguinha que coloca uma linha melódica principal conversando verticalmente com uma outra, mais grave).
Além das transformações conceituais, o trabalho de Moura também faz a tentativa de devolvê-lo à linguagem popular. O choro, que nasceu nos salões de bailes da elite carioca, na virada do século, foi às ruas encontrar os ritmos populares e ajudou a criar o samba, mas voltou a um círculo fechado e até "academicista" de intérpretes. Com os arranjos alegres e dançantes de Paulo Moura, o veio popular está de volta.
(SC)

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