São Paulo, terça-feira, 8 de abril de 1997 |
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Texto espelha a confusão dos anos 70
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
Não se deve porque um biógrafo neutro trataria de investigar a trajetória do grupo, os acontecimentos que os envolveram, seus conflitos, as razões de seus conflitos. Galvão passa à margem disso tudo. É o que se poderia esperar, até porque a dúvida continua a envolver um grupo que, brotado da revolução hippie de 68/69, sempre esteve envolto pela névoa da confusão -e de outras fumaças. Há anos, os míticos sambistas-roqueiros tentam uma volta, quase sempre abortada. Tal interesse talvez iniba que um dos líderes remexa a massa que constituiu ascensão e queda da confraria. Há outro fator a impedir a construção do livro como autêntica biografia. Tiradas a esmo, palavras do próprio autor são esclarecedoras: "Esses fatos aconteceram em 70, ficando registrados apenas na memória, e, como neste momento em que os relato lá se vão mais de 20 anos, posso tê-los revestido de uma dose de ficção, porque a esta altura já não sei o que foi sonho ou realidade na vida dos Novos Baianos. (...) Quando dormíamos, costumávamos sonhar com as mesmas coisas que vivíamos". Está aí a questão: os NB -e a época em que floresceram obrigava a isso- foram "mutcho locos", e o livro exibe isso em anarquia expressa a cada parágrafo. Cronologias se confundem, a história segue em socos, as lembranças são difusas. Isso seria um problema, fosse o livro pretensioso -não é. É um relato emocionado da vida conturbada da arte nos 70. Compreender sua lógica tortuosa é compreender a cabeça amalucada de qualquer dos artistas que tenham vivido a barra do período militar. Tal período acaba de ganhar mais um documento. Livro: Anos 70 - Novos e Baianos Autor: Luiz Galvão Lançamento: editora 34 Quanto: R$ 28 (286 págs.) Texto Anterior: Livro lembra sexo, drogas, futebol e MPB Próximo Texto: Paulinho passeia pela história do samba Índice |
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