São Paulo, terça-feira, 8 de abril de 1997
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Paulinho passeia pela história do samba

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

É mesmo ano de Novos Baianos. Mais um deles, Paulinho Boca de Cantor, solta a voz após anos de afastamento, com o lançamento do disco "Todos os Sambas". Paulinho não gravava desde 1991.
"Todos os Sambas" é disco derivado de outro projeto do cantor, compositor e instrumentista. "Depois de ter morado nos Estados Unidos entre 88 e 91, voltei para a Bahia, não consegui ficar no Rio. Lá, passei a me interessar mais pela origem da nossa musicalidade", explica.
Daí nasceu o projeto "Do Lundu ao Axé", ainda em execução -e à procura de patrocínio-, que prevê a gravação de 26 canções que resumam a produção baiana neste século, com participação de nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Moraes Moreira, Gerônimo e Carlinhos Brown.
A coleção atravessaria a história do samba, passando pelo lundu, o samba-batuque, Assis Valente, Caymmi, a bossa nova, o samba de Batatinha, o tropicalismo, os Novos Baianos, o trio elétrico...
Derivado daí, nasceu o CD que ele agora apresenta, que sai do front da Bahia e faz um passeio pela história do samba brasileiro.
"Para representar o início do século, escolhi uma chula, 'Amor de Matar'. Aí passo ao samba-batuque de 'Sambador/Mourão de Samba', de Bule Bule, o repentista mais famoso daqui."
Daí, passa ao que considera o primeiro samba-rap, "Preto, Mulato e Branco", de Ataulfo Alves, ao samba de morro de Zé Keti, ao samba matreiro e bem-humorado de Henrique e Marília Batista, ao samba de diálogo entre a Mangueira de mestre Cartola e a Portela de mestre Paulo da Portela ("Sala de Recepção", dedicada pelo primeiro ao segundo).
"Xingu", de Paulo César Pinheiro e João Nogueira (que participa da gravação), representa os sambas de enredo, e "Sistema Nervoso", de Wilson Batista, Roberto Riberti e Arlindo Marques Jr., a dos sambas-canção.
Por fim, a gênese do novo samba -a bossa nova- comparece com "Manhã de Carnaval", de Luiz Bonfá e Antonio Maria.
Alguns autores ele preferiu evitar: "Chico, Gil e Caetano são compositores muito regravados, existe essa onda. Não quis excursionar nessa área muito mexida".
Inseridos em ordem não-cronológica, há alguns elementos a mais. "Besta É Tu" (72) e "Com Qualquer Dois Mil Réis" (73) são fundidas em uma só para homenagear o novíssimo samba de seus Novos Baianos. Ainda nessa linha, faz dueto com Moraes Moreira na nova "Samba dos Novos Baianos".
E, para abrir o CD, foi escolhido "A Sombra da Solidão", um pagodão. "Foi incluído por interesse da gravadora RGE, que atua muito nesse mercado. A gravadora foi muito receptiva comigo, não me incomoda ter feito essa concessão", afirma.
A volta ao samba não significa, segundo ele, uma tomada de posição. "O disco não significa necessariamente que eu seja um sambista. A partir deste, quero misturar mais, incluir beats contemporâneos, como os de Chico Science, do Skank, que os Novos Baianos tiveram a honra de ter começado", diz.
(PAS)

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