São Paulo, terça-feira, 8 de abril de 1997
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Clinton rejeita proposta de cúpula

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O presidente dos EUA, Bill Clinton, recusou ontem a proposta apresentada a ele pelo primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, de se tornar o árbitro das traumatizadas negociações de paz entre israelenses e palestinos.
Após duas horas de diálogo, Clinton descreveu seu encontro com Netanyahu com adjetivos que no jargão da diplomacia indicam que a reunião foi difícil, confrontante e não obteve progressos significativos. "Nós tivemos uma conversa específica, franca, sincera e longa", disse o presidente.
Netanyahu se recusou a entrar em detalhes a respeito de seu encontro com Clinton ao falar por 45 minutos com jornalistas em Washington. Ele respondeu às perguntas muitas vezes com agressividade e reclamou da maneira, injusta a seu ver, como seu país é apresentado nos meios de comunicação.
Clinton liquidou o principal objetivo de Netanyahu mesmo antes de a audiência começar. O presidente disse a repórteres que a idéia de uma conferência entre Israel e Autoridade Palestina patrocinada pelos EUA é "prematura".
Netanyahu também já havia recusado em público, antes de chegar à sede do governo norte-americano, o pedido de Clinton para Israel congelar a construção de casas em áreas de população majoritariamente árabe, ainda sob ocupação israelense e com as negociações em andamento.
O encontro entre Clinton e Netanyahu estava, portanto, destinado ao fracasso desde o princípio. Os dois nunca se deram bem.
Clinton tinha ostensiva preferência por Shimon Peres na eleição israelense de maio do ano passado, vencida por Netanyahu por diferença de 29.507 votos (num total de 3,1 milhões). No atual estágio do processo de pacificação do Oriente Médio, Clinton não tem escondido que se opõe à política de Israel de construir colônias judaicas em áreas árabes do país.
Camp David
Netanyahu veio a Washington com a esperança de convencer Clinton a fazer o papel desempenhado por Jimmy Carter na conferência de Camp David, quando o presidente norte-americano manteve diversos encontros em separado com o presidente do Egito Anuar Sadat e o primeiro-ministro de Israel Menachem Begin até conseguir dos dois consenso para acordo de paz entre seus países.
Clinton não parece disposto a arcar com esse ônus. Entre outros motivos, porque ele nem pode adotar uma posição anti-Israel (pela importância da comunidade judaica na sociedade norte-americana) nem condenar a Autoridade Palestina em pontos por ela defendidos com os quais ele concorda (como o das novas comunidades de israelenses em regiões árabes).
O argumento que o presidente usou para justificar sua decisão de não assumir uma posição central no processo é a de que já existe uma linha de ação decidida nos acordos de Oslo assinados por Iasser Arafat e Yitzhak Rabin em Washington em 1993. O que deve ser feito, segundo Clinton, é seguir o roteiro traçado em Oslo, em vez de começar um outro processo.
As conversações entre Israel e Autoridade Palestina estão interrompidas desde que, no mês passado, Netanyahu deu início à construção de 6.500 casas em Har Homa (Jabal Abu Ghneim para os árabes), colina em Jerusalém oriental ocupada por Israel desde 1967 e reivindicada por ambos.
Choques entre palestinos e israelenses têm ocorrido quase todos os dias há um mês. Clinton tem pedido a Arafat compromissos públicos mais taxativos de repúdio ao terrorismo e à violência como pré-condição para a retomada das negociações de paz.
O presidente deixou aberta a possibilidade de enviar ao Oriente Médio a secretária de Estado, Madeleine Albright. Descendente de judeus, Albright não esteve na região desde sua posse, em janeiro.

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