São Paulo, quarta-feira, 9 de abril de 1997
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Violência em blitz é rotina, dizem PMs

DA SUCURSAL DO RIO

Policiais militares do 18º BPM (Batalhão de Polícia Militar) afirmaram ontem à Folha que as incursões nas favelas da zona oeste, principalmente na Cidade de Deus, são rotineiras e violentas.
"O PM tem de se impor. Ninguém que apanhou ali é santo", disse um soldado do batalhão, que não quis se identificar.
Ao lado do soldado, um cabo também defendeu as agressões. Segundo ele, "quem afina no serviço de rua não serve" para a PM.
O presidente do Clube de Oficiais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, coronel Ivan Bastos, e os moradores da Cidade de Deus, em Jacarepaguá (zona oeste), fizeram a mesma avaliação das cenas de violência no bairro: são rotina.
"Isso aí é apenas uma gota d'água. Acontece toda hora. Apenas houve alguém que filmou, não tem nada de fato isolado não", disse Bastos. Segundo ele, no Rio se instalou "a barbárie na segurança pública".
Como exemplo, Bastos citou a política da Secretaria da Segurança de premiar e promover policiais por supostos atos de bravura. O coronel afirmou que os salários pagos aos policiais no Rio são "indignos" e "ridículos". "Com esses salários você não tem a menor condição de qualificar ninguém para posição alguma."
Moradores ouvidos pela Folha disseram que são comuns no bairro batidas policiais marcadas pela truculência e por agressões. L., 24, mora em frente ao edifício Palmares, onde ocorreram os espancamentos exibidos anteontem na TV, e disse ter visto tudo.
"As pessoas gritavam e berravam e eu tive de ficar aqui assistindo da janela com medo de morrer. Não consegui dormir. Durou a madrugada inteira. Desta vez foi um pouco diferente porque alguém filmou, mas não é a primeira vez", afirmou L.
Segundo os moradores do conjunto habitacional, as vítimas preferidas dos policiais são os viciados em drogas, que vão à favela para comprar cocaína e maconha. Conforme depoimentos colhidos pela Folha, os policiais liberam os detidos depois de supostamente tomar deles droga e dinheiro.
Entre os policiais que aparecem no vídeo, os moradores disseram que pelo menos três deles fazem constantes incursões à favela para agredir e extorquir a população.
"Tapa na cara é o carinho mais doce que a polícia faz por aqui. Na hora das batidas, abro a porta da minha casa e acendo as luzes, para ver se a polícia pára de bater nas pessoas, mas eles não têm medo de nada", afirmou C.D., líder comunitária que desenvolve programas sociais no bairro.

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