São Paulo, quarta-feira, 9 de abril de 1997
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Opção dos dirigentes conduz futebol ao tédio

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Esse povo não aprende nem a pau: de que adianta forjar um acordo milionário com as TVs, montar timaços rebrilhantes de estrelas e disparar discursos modernizantes pelos microfones se, na hora de elaborar o regulamento do campeonato (ou seja: armar o espetáculo que haverá de sensibilizar torcida e mídia), essa cartolagem renitente insiste no crônico e fatal erro de separar a maior fatia do tempo disponível para uma cansativa e inócua fase de classificação?
Isso anula todo o resto de medidas acessórias.
A história do nosso futebol está aí para comprovar que só há duas saídas: a clássica, de turno e returno, com um número reduzido de participantes, para que se possa estabelecer uma organização capaz de produzir rendas antecipadas, por meio de carnês etc.
Ou o heterodoxo sistema de divisão em grupos, com os campeões de cada chave disputando títulos de turnos e finais. A fórmula tradicional, se é mais justa na aferição do melhor, oferece o risco do esvaziamento, caso um time dispare na ponta. A outra -a meu ver mais condizente com a nossa cultura imediatista- mantém o clima de decisão permanente.
Pois eles preferiram a terceira via, aquela que conduz ao tédio.
*
A Folha optou por uma nomenclatura que, no fundo, espelha a visão chapada que a imensa maioria dos nossos treinadores tem em relação às nuances de uma armação tática. O meio-campo, geralmente composto por quatro jogadores, então, para a Folha, ficou assim: meia ofensivo e meia defensivo. Isso vale tanto para o antigo médio, mais tarde chamado de volante, como para o meia, que os ingleses chamavam de "insider", não apenas no sentido de que jogava por dentro, pelo meio, como também porque organizava.
Na verdade, no sistema clássico, tínhamos dois zagueiros, três médios e cinco atacantes. Esses eram fracionados em pontas, meias e centroavante. Os meias faziam a ligação entre a linha média e o ataque. Iam e vinham com igual constância.
Com o advento do WM, passamos a ter, na defesa, três zagueiros (beque central e dois laterais); no meio-campo, dois médios e dois meias, formando o quadrado mágico; no ataque, o centroavante e dois pontas. Com a diagonal de Flávio Costa, logo seguida da marcação por zona de Zezé Moreira, que resultaria no 4-2-4, um dos médios foi recuando até transformar-se em quarto-zagueiro, enquanto um dos meias acompanhava esse recuo até aquém da divisória do campo. Nascem, então, o médio de apoio, rebatizado de volante, e o meia-armador, enquanto o outro meia passava a ser chamado de ponta-de-lança, pois jogava mais enfiado, quase próximo ao centroavante.
Na sequência, vieram o 4-3-3 e o 4-4-2, que é o vigente.
Foi nesse processo que surgiu a figura dos dois volantes, criada por Rubens Minelli, quando treinador do Inter, bicampeão brasileiro, de Caçapava, Batista e Falcão.
Conclusão: (a conclusão fica para domingo, que as palavras começam a despencar na beirada da página).

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