São Paulo, quarta-feira, 9 de abril de 1997
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A vingança da televisão

MARIA ERCILIA
DO UNIVERSO ONLINE

A idéia de que as pessoas querem acessar a Internet pela TV vale muito para a Microsoft. Mais precisamente, US$ 425 milhões -é quanto a empresa anunciou que pagará pela WebTV, uma nova companhia que fabrica terminais Internet para TV.
Até então a WebTV tinha despertado alguma curiosidade, com um produto considerado bem-acabado, que foi lançado no final do ano passado nos EUA e teve vendas fracas no Natal. Agora se torna uma peça fundamental da estratégia da Microsoft, de fundir TV, PC e Internet.
A WebTV é uma caixinha preta que custa US$ 300 nos EUA e pode vir com um teclado infravermelho opcional. É o que há de mais parecido com um sonho de cinco ou seis anos atrás da indústria de eletrônicos: a set-top box, uma caixa que transformaria a TV num aparelho interativo. A Microsoft e muitas outras empresas gastaram muito em pesquisas para a TV interativa, que acabou ultrapassada pela ascensão da Internet antes mesmo de existir e agora parece ressurgir com uma roupa nova.
Muitas tecnologias que acabaram aproveitadas na Internet vieram de projetos milionários e fracassados de TV interativa. O Java é um exemplo -sob o nome Oak, seria a base de um sistema operacional para TV. Repaginado, virou linguagem para Web.
Pode à primeira vista não fazer sentido que uma empresa que faz software para máquinas sofisticadas e caras invista num aparelho que permite que a TV se comporte como um computador. Mas a Microsoft aposta num mercado de eletrônicos de consumo com acesso à Internet, possivelmente rodando versões simplificadas do Windows e outros softwares. Além disso, 98% dos lares americanos têm TV, contra menos de 45% equipados com computadores -e a Microsoft, que investe cada vez mais em conteúdo, quer alcançar o máximo possível deste público.
No sofá com a Internet
Resta saber se a Internet no sofá vai emplacar. Há limitações: a WebTV só funciona se o usuário for assinante do provedor WebTV, por exemplo.
As aplicações mais usadas da Internet são correio eletrônico e bate-papo, reforçando a idéia de que a rede é muito mais usada para comunicação com outras pessoas que para "assistir" a programações.
Se a Internet pela TV agrada ao consumidor é uma incógnita. Com certeza interessa à indústria, que vê nela uma maneira de tornar a rede um mercado efetivamente de massa.
A Internet via computador tem duas barreiras que poderiam tornar sua penetração lenta: a complexidade e o preço das máquinas. Não deixa de ser irônico lembrar o desprezo com que a indústria de informática sempre tentou tratar a TV -seria um "meio em decadência", a caminho de ser eclipsado pelo computador como fonte de entretenimento.
Acesso obsessivo
Bem ou mal, aos poucos vai se realizando a promessa de ubiquidade da Internet, que transborda das redes de computador para tudo quanto é gadget. Toda uma nova geração de eletrônicos que vem aí inclui alguma forma de acesso à rede.
Os telefones celulares ingleses Vodafone em breve poderão receber mensagens de correio eletrônico. Uma empresa canadense fabrica também um telefone -comum- com acesso a correio eletrônico. A maioria dos novos PDAs (Personal Digital Assistant -computadores "de mão") dará acesso à rede.
Sem falar em coisinhas mais simples, como pagers, quiosques públicos, consoles de videogame... Agora é rezar para que não inventem e-mail para o seu microondas ou seu secador de cabelo. Em algum lugar a gente tem que ter sossego.

E-mail: netvox@uol.com.br

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