São Paulo, quarta-feira, 9 de abril de 1997
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Lacotte traz história do balé francês a SP

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Ballet National de Nancy, que estréia em São Paulo no dia 23 de abril, é dirigido por uma personalidade importante e ao mesmo tempo curiosa: Pierre Lacotte, 65.
Nos anos 50, Lacotte foi primeiro bailarino do Ballet da Ópera de Paris, do Metropolitan Opera House de Nova York, e também fundador do Ballet da Torre Eifell.
Em 1985, a princesa Caroline de Mônaco, o convidou para dirigir o Ballet de Monte Carlo, onde ficou até 1991, quando retornou à França para assumir a direção do Ballet National de Nancy, em substituição a Patrick Dupond, superstar da Ópera de Paris.
Como coreógrafo, Lacotte acabou se tornando uma das maiores autoridades na reconstrução de obras clássicas. Hoje, além de dirigir o elenco de Nancy, atua como consultor internacional de companhias que querem montar obras do repertório clássico, como "Giselle" e "La Sylphide".
Jeito formal, peruca escondendo a calvície, terno e gravata como traje habitual, Lacotte esconde em sua aparência uma profunda cultura sobre dança, além de uma paixão pelas obras românticas.
"Os balés românticos são eternos porque são belos, poderosos e também porque têm um senso metafísico e intelectual que toca o coração e a alma. Nos fazem sonhar e o sonho é uma necessidade humana. Sempre temos que imaginar coisas mais bonitas do que a vida real", disse Lacotte à Folha, por telefone, de Paris.
Leia a seguir trechos de sua entrevista.
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Folha - Quais são suas fontes para remontar uma obra antiga?
Pierre Lacotte - As obras clássicas são paixão de minha juventude, quando tive a chance de dançar na Ópera de Paris e trabalhar com grandes professores, como Gustav Ricaux (1884-1961), que formou nomes como Roland Petit e Jean Babilée.
Também trabalhei com Lioubov Egorova (1880-1972), bailarina e professora russa que havia convivido com Marius Petipa (o criador de "Giselle") e que me transmitiu integralmente um repertório precioso, de Jules Perrot a Petipa.
Folha - O senhor possui muitos textos e anotações?
Lacotte - Sim, tenho muitos escritos sobre estilo, detalhes como a lentidão ou rapidez dos passos nos balés antigos, sobre a articulação necessária para se obter a harmonia específica daquelas obras, enfim, tudo o que é necessário para preservar até mesmo o mistério dos clássicos.
Folha - Qual o maior desafio em montar um clássico nos dias de hoje?
Lacotte - É fazer reviver o perfume, o frescor e a juventude da obra clássica, resgatando suas qualidades primordiais.
Folha - Como é para um intérprete contemporâneo assimilar um papel clássico?
Lacotte - É um trabalho duro, que implica em esquecer a si mesmo, esquecer a época em que estamos vivendo, para retraduzir em seu íntimo uma maneira de ser, de andar, de movimentar as mãos, de se comportar com uma delicadeza específica.
Nesse processo, é fundamental resgatar um estilo de época, porque se o bailarino se movimenta de forma mais dura, mais moderna, perde-se o clima de uma obra antiga.
Um bailarino atual que pretenda dançar uma obra romântica tem que fazer uma abstração para tentar tornar-se o que fomos ontem.

Espetáculo: Ballet National Nancy
Quando: dias 23 e 24, às 21h ("Giselle"), e 25, às 21h (programa contemporâneo)
Onde: Teatro Municipal de São Paulo (pça. Ramos, s/nº; tel. 011/222-8698)
Quanto: R$ 10 a R$ 80

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