São Paulo, quarta-feira, 9 de abril de 1997
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Anos 90 vêem revalorização

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A revalorização do documentário como gênero cinematográfico é um dos fenômenos inequívocos dos anos 90. Provas? O aumento do número de títulos lançados em salas e do espaço na imprensa, a eclosão e o fortalecimento dos festivais específicos, a porcentagem recorde de filmes não-ficcionais indicados ao Oscar 96 (um quarto do total) são três delas.
Há várias explicações. Em primeiro lugar, o documentário soube revogar o estigma que por décadas pousava sobre o gênero, apostando numa aproximação com o espectador que perdera para a TV. Hoje a produção não-ficcional é mais variada, em temas e estilos, que a ficcional. Busca informar entretendo.
Por seu turno, também o público mudou. Parece como nunca aberto ao gênero. Numa era de imagens-escândalo e jornalismo-clipe, o documentário funciona como pausa iluminista, organizando informações, recuperando contextos.
O espectador reencontra também no documentário, como tem sustentando Marcel Ophuls, o poder do olhar individual sobre a realidade. Para além das limitações institucionais, o documentarista recupera a força da mediação explícita de uma subjetividade.
Por vezes, reconheça-se, irrompe o "ego filme", em que o mundo é limitado ao umbigo do realizador. Vale o risco: talvez a mais vigorosa tendência do documentarismo seja a que sobrepõe dramas autobiográficos às curvas da história.
A retomada do documentário tem também impulsos econômicos. A multiplicação das TVs por assinatura ampliou as possibilidades de co-produção. É raríssimo o documentário cuja viabilização não passe pela parceria com a TV.
Há cinco anos ouvi Francis Coppola apontar como sua utopia para o futuro a possibilidade de um cinema mais democrático, em que câmeras de home video abrissem as portas do filme para todos. Bom, não demorou tanto assim.

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