São Paulo, quarta-feira, 9 de abril de 1997
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Dois 'Béjarts' se mostram em SP

'Le Presbitre' troca erudição por humanismo

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A temporada que o Béjart Ballet Lausanne está realizando em São Paulo, nesta semana, serve para observar dois momentos não apenas coreográficos, mas também musicais de Maurice Béjart, que comemora neste ano os seus 70 anos.
No programa que será apresentado hoje, o elenco do coreógrafo francês interpreta "O Mandarim Maravilhoso", de Béla Bartók, "Mallarmé 3º", sobre música de Pierre Boulez, além de "Barroco Bel Canto", ao som de obras barrocas de compositores como Vivaldi e Haendel.
Em "Le Presbitre n'a Rien Perdu Son Charme ni le Jardin Son Éclat" (O presbitério não perdeu seu charme nem o jardim seu esplendor), programa de amanhã, sábado e domingo, Béjart dá uma guinada.
Uma guinada que se mostra na escolha da trilha sonora, em nada semelhante à apresentação de hoje: as músicas do grupo Queen.
Donn e Mercury
A coreografia de "Le Presbitre" é uma homenagem ao bailarino Jorge Donn e ao cantor Freddie Mercury, líder do conjunto de rock Queen.
Mercury, assim como Donn, morreu de Aids aos 45 anos. E Maurice Béjart faz das canções pop da banda inglesa um dos elementos de seu novo balé -que, ao contrário de suas obras anteriores, foge das propostas conceituais.
Tudo indica que, em vez de mergulhar no fascínio intelectual que autores eruditos lhe provocam, Maurice Béjart optou, nessa nova coreografia, por uma sonoridade que fala direto à nova geração.
Essa opção parece indicar que uma sonoridade que abre a possibilidade de cultivar a "alta cultura" acabou por se tornar subjetiva perante os flagelos do mundo, quando se aproxima a virada do século.
Música concreta
Mais humanista e menos intelectual, "Le Presbitre" está distante da época em que Béjart descobriu a música concreta francesa e que fez de Pierre Henry e Pierre Schaeffer dois de seus compositores prediletos.
Sobre a música destes autores, Maurice Béjart comentaria: "O som em estado puro gera o gesto puro".
Considerando a opção atual pelas canções do Queen, tudo indica que Béjart deixou-se contaminar pelas misturas híbridas que o pós-modernismo ajudou a disseminar.

Espetáculo: Béjart Ballet Lausanne
Quando: hoje, amanhã e sábado, às 20h30, no domingo, às 17h
Onde: Teatro Municipal de São Paulo (praça Ramos de Azevedo, s/nº; região central da cidade de São Paulo, tel. 011/222-8698)
Ingressos: de R$ 20,00 a R$ 120,00

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