São Paulo, quarta-feira, 9 de abril de 1997
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Violência da polícia gera protesto em Nova York

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DE NOVA YORK

Cerca de 300 moradores de Washington Heights, subúrbio de Nova York, protestaram ontem pelo segundo dia consecutivo contra a violência policial na região.
A causa do protesto foi a morte de Kevin Cedeno, 16, que levou um tiro do policial Anthony Pellegrini, 25, na madrugada de domingo.
O resultado da autópsia, que revelou que Cedeno foi atingido pelas costas, aumentou a revolta dos moradores locais.
Cedeno e um grupo de colegas afro-americanos teriam invadido uma festa de porto-riquenhos no sábado à noite, iniciando uma briga generalizada.
A polícia recebeu um telefonema denunciando o conflito e encontrou vários dos envolvidos nas ruas de Washington Heights.
Cedeno teria sido encurralado por dois carros de polícia. Os policiais alegam que Pellegrini atirou com medo de que algum de seus companheiros fosse atingido por Cedeno, que portava um facão.
Rudolph Giuliani, prefeito de Nova York, que no domingo defendera Pellegrini, pediu calma à população depois de anunciado o resultado da autópsia.
"Continuo pedindo às pessoas que mantenham a mente aberta. Temos de saber o que aconteceu antes de crucificarmos a polícia. Se ela for culpada, serei o primeiro a defender a punição", afirmou.
Howard Safir, chefe de polícia, avisou que a investigação será levada às últimas consequências. "Os culpados serão punidos."
Além de ser julgado por um promotor independente, Pellegrini pode ser expulso da polícia. Ele terá de responder pelo quarto processo interno dentro do 33º Distrito Policial de Nova York.
Palanque
O reverendo Al Sharpton, que pretende se candidatar à sucessão de Giuliani, fez ataques à polícia e ao prefeito. "Foi um crime hediondo. A investigação só será isenta de dúvidas se for comandada pelo governo federal, sem influência do municipal", gritava.
Roma Cedeno, mãe do morto, fez um discurso emocionado. "Nunca mais verei meu filho. Nunca mais o teremos. Só queríamos viver com respeito aqui na vizinhança, mas o que a polícia foi fazer?", perguntou. "O quê?"
Kevin Cedeno, pai de um garoto de cinco meses, teve seis passagens pela polícia, chegando a ser condenado por assalto à mão armada.
Preconceito
A morte de Cedeno levou negros e latino-americanos a se juntarem no protesto contra a ação policial.
"A polícia aqui não age bem porque não somos endinheirados", disse Beverly Fortson, amiga da família do morto. "Eles não gostam de negros nem de latinos."
Thomasina Jeffery, 15, mãe do filho de Cedeno, porém, reconhece que a polícia tem muito trabalho.
"Aqui todos andam armados, porque há muitas brigas de gangues", afirmou. "Mas o Kevin era de paz. Ele só usava o facão para se proteger, nunca iria usar contra ninguém. O que aconteceu com ele foi uma covardia."

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