São Paulo, quarta-feira, 9 de abril de 1997
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Os "inempregáveis"

GILBERTO DIMENSTEIN

O presidente Fernando Henrique Cardoso apontou a flexibilidade dos contratos de trabalho (menos benefícios sociais) como uma das principais causas do baixo desemprego americano. Verdade.
Tradução: se quisermos evitar as taxas de desemprego da Europa, devemos nos inspirar nos EUA. Cuidado. Muitas vezes um número vale mais do que mil mentiras.
Fernando Henrique vê crescer a competição internacional, produzindo demissões e, no rastro, o que chamou de "inempregáveis". É gente que não consegue se reciclar para obter emprego.
O exemplo americano serve?
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O presidente não mencionou que a renda média de uma família americana é R$ 3 mil mensais. Um mendigo em Nova York ganha várias vezes mais do que um plantonista de hospital público.
As famílias mais pobres recebem ajuda de alimentação, aluguel e até dinheiro direto no bolso.
O ponto: cortar benefícios sociais de quem já tem uma renda familiar de US$ 3 mil é uma coisa. Mas de quem não passa dos R$ 400, outra bem diferente.
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Essas medidas, baseadas numa sincera preocupação com o emprego, trazem o risco de não aumentar o emprego, mas agravar a pobreza.
Isso porque o sistema de educação formal merece um adjetivo "inempregável" nesta coluna. O avanço da produtividade depende, hoje, mais da qualificação da mão-de-obra do que dos cortes de benefícios sociais. Até que ponto vamos reduzir o valor do trabalho?
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Se é para buscar exemplos aqui, os governantes também deveriam acompanhar tendência nas cidades americanas, especialmente em Nova York, para enfrentar o problema dos "inempregáveis".
Prefeituras e empresas colocam desempregados crônicos em suas folhas de pagamento.
Preparar mão-de-obra para enfrentar os novos níveis de competição, reformando o sistema educacional, é a questão nacional mais grave. O resto gira em volta.
Por isso, prospera aqui uma idéia que é aparentemente maluca, mas, na verdade, com fundamento -unificar os ministérios do Trabalho e da Educação.
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PS - Está à disposição por e-mail texto sobre experiência de grandes empresas americanas que contratam mendigos ou desempregados crônicos, com bons resultados.
Para quem busca saídas contra o desemprego e exclusão social, é leitura indispensável. Até o final da semana, vai estar em português.

Fax: (001-212) 873-1045
E-mail gdimen@aol.com

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