São Paulo, quarta-feira, 9 de abril de 1997
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FHC, O MESMO

O mais recente discurso do presidente confirma duas características do político-pensador Fernando Henrique Cardoso. Ele está sempre a querer mostrar que suas análises e atitudes levam em consideração o desenvolvimento histórico brasileiro e mundial. Mais: que a linha de atuação do político-pensador, por sua vez, está enraizada na história do pensamento do sociólogo que ele foi e, de maneira menos ativa, ainda é.
O que o presidente quer reiterar com seus discursos, que vão da relação da prata boliviana com a Europa de 300 anos atrás até a globalização? Suas teses e o uso de termos pitorescos, como "inempregável", não devem ser tratados só como esnobismo intelectual ou como mera parte do folclore biográfico do presidente.
FHC não está brincando. Seus discursos reafirmam um diagnóstico refletido sobre o futuro de um país pobre diante da necessidade de se integrar em ritmo adequado ao mercado internacional, lição de casa que, insinua, seus críticos provavelmente não teriam feito.
Uma de suas iterações refere-se à questão dos excluídos, os que não são "explorados, nem exploráveis", os "inempregáveis". Por causa do avanço tecnológico ou do volume de investimentos para capacitá-los, eles não terão ou já não têm qualquer serventia na produção. Nesse ponto, o presidente mostra um realismo cinzento, ainda que diga angustiar-se com a questão e que queira resolvê-la, diferentemente dos "fracassomaníacos". Para esses, FHC conduz uma "modernização conservadora", que piora o problema.
Curioso, porém, é que, quando discursa o político-pensador, o presidente fica um pouco atrás da cortina. FHC parece falar de um ponto no espaço fora da realidade. Afirma que é preciso sindicalismo, empresariado e poder público renovados para enfrentar o problema da miséria na globalização, tal como ela hoje se dá. É certo que a tarefa de construir um país justo está longe de caber apenas ao presidente. Ademais, a oposição parece por enquanto incapaz de oferecer uma alternativa política e teórica consistente. Ainda assim, FHC dá a impressão de que ele precisa de um país novo, um outro Brasil, para que possa realizar suas tarefas. Resta saber se ele está suficientemente empenhado nessa renovação.

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