São Paulo, quarta-feira, 9 de abril de 1997
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EXPORTAÇÃO DE POBRE

Já houve quem apostasse na vocação agrícola da economia brasileira.
Empresários e governos fizeram uma aposta diferente. Hoje o Brasil tem uma economia industrializada.
Esse é um exemplo clássico de como o desenvolvimento econômico também passa por confrontos entre visões de planejamento. Com a estabilização, o debate sobre estratégias tende a ganhar espaço novamente.
Um elemento crucial para construir a ponte entre estabilização e desenvolvimento é o setor externo da economia, em especial o desempenho no comércio internacional.
Sabe-se por exemplo que déficits comerciais crescentes são vistos pelos investidores externos como um risco para a estabilidade. Se o risco aumentar, o apoio externo à estabilização poderá ser posto em xeque.
Coloca-se então a questão fundamental: tem a economia brasileira uma vocação exportadora?
Há motivos para ceticismo. Um estudo da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil) acaba de revelar que apenas 8% do valor das exportações brasileiras está incluído nos setores mais dinâmicos da economia global. Exportar mais café e soja, na visão da AEB, é perder terreno no mercado internacional.
O governo aposta na sofisticação crescente da estrutura industrial brasileira, que hoje importa máquinas e equipamentos, mas poderia qualificar-se, no futuro, para exportar mais e melhores produtos manufaturados como resultado dos investimentos que agora geram mais importações.
A aposta do governo, entretanto, ainda é acima de tudo um exercício do desejo. Afinal, nada garante que os investimentos intensivos em importações de hoje estejam ocorrendo em setores exportadores.
Sendo uma economia continental, com grande mercado interno, a estrutura industrial do país talvez não tenha vocação predominantemente exportadora. O confronto entre visões estratégicas está aberto. Resta saber quem apenas deseja e quem, de fato, adivinha nossa vocação.

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