São Paulo, domingo, 13 de abril de 1997
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Aonde FHC quer chegar (2)

CELSO PINTO

Há alguns meses, o ministro do Planejamento, Antonio Kandir, disse que, se a reeleição fosse aprovada, o Brasil poderia crescer de 7% a 9% ao ano. Pois bem, a reeleição foi aprovada. O que está faltando?
Kandir garante que jamais fez uma afirmação tão simplista. Isso já não vem ao caso. O fato é que ele continua dizendo que o país poderia crescer a taxas como essas, a partir do ano 2000, desde que algumas precondições sejam cumpridas.
Mais ainda, Kandir acha que, se FHC for reeleito, sua função seria completar a transição da economia em direção ao alto crescimento. Até o ano 2000, não haveria muito espaço para crescer mais do que 4% a 5% ao ano.
O caminho do paraíso começaria na reeleição, segundo Kandir, porque ela aglutinaria as forças políticas em torno de um projeto de poder de seis anos e facilitaria a aprovação das reformas estruturais.
Esse, contudo, é só o começo. Pelo menos cinco outros requisitos seriam vitais: estabilizar a área fiscal e a área externa, melhorar a infra-estrutura física e humana e elevar a taxa interna de poupança. O efeito seria não só criar precondições para crescer, como dar uma maior garantia aos investidores de que as taxas de juros não estariam sujeitas a saltos no futuro imediato.
Na coluna de sexta-feira mencionei os pressupostos da estabilização fiscal. Na área externa, o objetivo central seria estabilizar o passivo externo líquido (os compromissos externos do país) em relação ao PIB.
Para isso, nas contas da Seplan, seria essencial contar com um aumento das exportações de, no mínimo, 6,5% a 7% neste ano e no próximo e de 13% a 14% em 1999 e 2000. Ao mesmo tempo, as importações, em média, cresceriam algo em torno de 6% ao ano nesse período.
A exemplo do que acontece na área fiscal, o necessário ainda está longe da realidade, o que explica a sucessão de pacotes de estímulo à exportação vindos de Brasília. Vale, contudo, a advertência: se o resultado das exportações continuar muito longe do mínimo necessário, pode-se esperar novos passos vindos de Brasília, em diferentes áreas.
Kandir aposta, a curto prazo, em respostas mais rápidas nas exportações de primários, tanto tradicionais quanto menos tradicionais, como as de frutas frescas. Os manufaturados reagiriam mais lentamente.
A melhora da infra-estrutura física seria um subproduto da privatização e das concessões. Hoje, se a economia crescesse de forma mais acelerada, esbarraria no colapso da oferta de infra-estrutura. Mesmo que a privatização seja bem-sucedida, os resultados levarão alguns anos. A questão é ainda mais complexa e lenta quando se trata de melhorar a qualidade da educação.
O aumento da poupança interna é tão crucial quanto complicado. Kandir diz que uma precondição é a aprovação da reforma previdenciária, mas não é o suficiente. A própria reforma exigiria leis complementares para regulamentá-la, ou seja, mais alguns anos para dar frutos plenos.
Em suma, de forma realista, quem votasse pela reeleição de FHC teria que estar preparado para mais alguns anos de consolidação de reformas antes de chegar a um cenário de mais alto crescimento, nas vésperas do final de seu segundo mandato. Quem viver, verá.
Em fogo brando
A adrenalina voltou a subir no mercado financeiro na sexta-feira, com boatos sobre um iminente pacote de contenção do crédito na próxima semana. Em parte, é uma elevação sazonal: como há muito tempo criou-se o consenso que o governo só tomaria decisões nessa área depois de conhecer os resultados do primeiro trimestre, é natural que a excitação esteja aumentando.
A decisão recente de restringir o uso de financiamento para as importações só virou medida prática 25 dias depois que ela se transformou em consenso na equipe econômica do governo. Se esse comportamento servir de parâmetro, é bom notar dois pontos: 1) discussões sobre contenção do crescimento continuam a existir dentro do governo; 2) ainda não há consenso.

E-maill: CelPinto@uol.com.br

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