São Paulo, domingo, 13 de abril de 1997
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Indústria perde espaço na exportação

ARTHUR PEREIRA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil parece trafegar na contramão da via de mão dupla que é o comércio internacional.
Enquanto países de desenvolvimento equivalente procuram vender cada vez mais produtos industrializados, o Brasil aumenta a participação de produtos agrícolas em sua pauta de exportações.
A tendência é clara: nos últimos cinco anos, a parcela dos produtos agrícolas no total das exportações passou de pouco mais de um quarto para pouco menos de um terço, como mostra o gráfico ao lado.
A curva acentua-se após o Real, quando o câmbio passa a ficar sobrevalorizado (o que significa exportações menos competitivas).
A tendência é de que a importância dos agrícolas continue em alta. Prova disso é que os industrializados vão perder ainda mais espaço nas exportações deste ano: caem de 74% em 96 para 71%, segundo projeção da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil).
"O país perde competitividade na área de produtos manufaturados e fica mais competitivo nos básicos", diz Marcus Vinicius Pratini de Moraes, presidente da AEB.
Os números da balança comercial do primeiro bimestre deste ano comprovam a tendência detectada pelos exportadores. No período, a venda de produtos básicos cresceu 15,26% em relação ao primeiro bimestre de 96. Só as exportações de café cresceram 77%. Os industrializados caíram 1,14%.
Safra e cotação
Segundo Pratini, os produtos agrícolas estão se beneficiando do aumento dos preços internacionais e da boa safra brasileira.
Entre os industrializados, Pratini aponta os produtos metalúrgicos (redução de 25,5% no período) e os químicos (queda de 11,17% no primeiro bimestre de 97, na comparação com 96).
Pratini diz que essa relação entre produtos básicos e industrializados não é a ideal para o país. "O Brasil enfrenta com lentidão a queda de competitividade das exportações. É preciso aumentar a sofisticação dos produtos industrializados exportados."
Levantamento feito pela AEB, a pedido do ministro da Fazenda, Pedro Malan, mostra que a pauta de exportações não inclui produtos de alto valor agregado e grande demanda internacional.
Segundo o estudo, feito a partir de estatísticas produzidas pela Unctad, entidade da ONU responsável pelo comércio mundial, em uma relação de 33 grupos de produtos de mais rápido crescimento no comércio mundial, o Brasil só participa das vendas de carros.
"É preciso aumentar o conteúdo tecnológico das nossas exportações. Isso é mais importante do que uma mudança de política cambial", diz Pratini.
Ele reconhece que alguns passos estão sendo dados nessa direção. A indústria, diz, está em processo de reestruturação. Prova disso seria o volume de importações de máquinas e equipamentos, responsáveis atualmente por cerca de 30% de tudo o que o país importa.
Pratini aponta dois outros fatores que considera fundamentais para que o exportador ganhe competitividade: redução dos custos portuários e abertura de linhas de financiamento para exportações com juros internacionais.
Economia fechada
Em números absolutos, as exportações de produtos básicos devem render ao país US$ 14 bilhões em 97. A venda dos industrializados atingirá US$ 34 bilhões.
Entre os industrializados, Pratini prevê crescimento das exportações de automóveis (15%), calçados (entre 10% e 12%) e material eletroeletrônico (10%).
Para ele, a economia brasileira ainda é muito fechada. "Exportamos o equivalente a apenas 7% do PIB." Os EUA exportam 15% e a Alemanha, 25%. "O Brasil precisa dobrar suas exportações", diz.

Colaboraram a Redação e a Sucursal de Brasília

LEIA MAIS sobre a relação entre agricultura e balança na pág. 2-6

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