São Paulo, domingo, 13 de abril de 1997
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Não falta talento, mas sorte, ao ataque tricolor

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Peraí! O São Paulo não é nenhuma Brastemp, mas não chega a ser o bagaço que alguns querem fazer crer. Tem empatado e perdido mais do que a paciência do torcedor tolera, é verdade. Contudo, boa parte desses maus resultados poderiam ter sido revertidos com um pingo de sorte.
Por exemplo: contra a Lusa, o São Paulo jogou um excelente primeiro tempo, acuou o adversário e criou duas ou três chances claras de definir a partida. No primeiro ataque luso, já no segundo tempo, gol. Falta, então, talento aos atacantes tricolores? Nem tanto. Afinal, por ali se revezam Aristizábal e Marques, dois experientes goleadores, com os jovens Dodô e França, que já deram provas de competência.
Isso não quer dizer que clube e time não devam se reciclar. Ao contrário: o clube precisa desvencilhar-se das velhas oligarquias e mergulhar na chamada modernidade, partindo para a co-gestão e contratando um profissional da área para assumir as funções de diretor de futebol. E o time carece de alguns reforços -um zagueiro de porte e classe e um meia-direita com descortino e habilidade, além de um artilheiro com carisma.
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Já o Corinthians, apesar do frustrante empate do meio-de-semana, vai tocando o barco em águas mansas. Tanto, que o problema de seu técnico para o jogo de hoje, contra o América , é saber qual a ilustre figura de seu milionário elenco que vai ficar no banco. Banco de reservas, claro.
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Onde estava mesmo, na quarta-feira? Ah, sim, Minelli acabava de entrar em cena, na metade dos 70, com seus dois volantes: Caçapava (depois Batista) e Falcão. Com uma diferença: não apenas Falcão era uma raríssima combinação de força e habilidade, capaz, portanto, de se transformar em meia-armador de alto estilo a partir do meio-campo, como a proposta visava dar cobertura aos laterais altamente ofensivos, que apoiavam dois pontas típicos -Valdomiro e Lula. O que parecia um recuo era, na prática, um avanço.
Retrocesso viria na década seguinte, quando a dupla de volantes se fixou na imagem de dois cabeças-de-área genuínos, incapaz de criar, o que forçou o recuo de um avante para formar a dupla de meias.
Resultado: hoje em dia, não se imagina um meio-campo escalonado, em que volantes e meias se caracterizem pelas nuances inerentes de suas funções específicas: um volante mais defensivo, outro mais ofensivo; um meia-armador, outro ligado mais ao ataque.
Imagine um meio-campo assim: Mauro Silva, Leonardo, Giovanni e Rivaldo. Mauro, um cabeça-de-área típico, destro; Leonardo, canhoto, já mais habilidoso, capaz de tocar e lançar com maior precisão; Giovanni, destro, mais próximo dos atacantes, enquanto Rivaldo, com seu fôlego e senso de marcação, um pouco mais recuado, ajudando no combate de meio-campo.
Pode-se resumir tal variação de estilos e funções em duas simples definições, como meias defensivos e meias-atacantes? Acontece que os termos refletem uma realidade. Pois é essa realidade que deve ser mudada. Por força das palavras, como sempre.

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