São Paulo, domingo, 13 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mídia e Internet bombardeiam o grupo

DA "GEORGE"

Apesar de sua eficiência quando se trata de recrutar novos adeptos, a Cientologia tem enfrentado constantes recriminações públicas de antigos membros. Em uma página da Internet após outra, pessoas que se identificam como ex-cientologistas divulgam relatos pessoais de danos emocionais e ruína financeira. A maioria das ações legais tramitando nos EUA contra a Cientologia envolve processos movidos por ex-membros.
Muitos dos litígios da Cientologia também envolvem a mídia. Desde 1991 a organização já processou a "Time", a "Reader's Digest" e o "The Washington Post" por artigos que publicaram criticando a Cientologia.
A maioria dos processos não deu em nada, mas custou às publicações uma fortuna em honorários. A crescente visibilidade da Cientologia, graças a seus membros famosos, aliada ao medo da tendência litigiosa do grupo, vem ajudando a diminuir as críticas e a própria cobertura da imprensa.
Apesar disso, as investigações do governo datam quase do início do movimento cientológico. No início dos anos 70, a Receita Federal norte-americana, durante uma auditoria, descobriu que Hubbard estava desviando milhões de dólares da igreja para suas contas bancárias pessoais na Suíça.
Anos depois, o FBI desvendou uma operação clandestina cientologista visando obter documentos do governo relativos à organização, com a ajuda de membros dela que trabalhavam na Receita, na Guarda Costeira norte-americana e no DEA, o órgão governamental de combate ao tráfico de drogas.
Em 1980, 11 altos representantes da Cientologia, incluindo a mulher de Hubbard, foram detidos por infiltrar, roubar documentos e grampear os telefones de mais de cem organizações privadas e governamentais, numa tentativa de bloquear as investigações em curso sobre a igreja.
"Nova Goebbels"
Alguns críticos da Cientologia acreditam que a motivação subjacente à campanha publicitária movida pela organização contra o governo alemão é financeira. A Alemanha se recusa a conceder aos cientologistas a isenção de impostos concedida às religiões, alegando que o grupo busca conseguir vantagens fiscais. Com um fluxo de caixa que, segundo consta, chega a centenas de milhões de dólares anuais, a Cientologia é tratada, na Alemanha, como empreendimento comercial. Bélgica, França, Israel, Itália, Espanha e México também negaram status de religião à organização.
Até quatro anos atrás os EUA também negavam à igreja a isenção de impostos. Em 1993, após 40 anos de resistência obstinada, essa posição foi invertida.
Em Hamburgo, por trás de uma porta de vidro à prova de balas, atua a inimiga número um da Cientologia, Ursula Caberta. A mulher que um líder cientologista apelidou de "a nova Goebbels" é retratada como uma bruxa com garras afiadas na revista cientológica "Freiheit" (Liberdade).
Fundada em 1992, a unidade que ela chefia fornece informações sobre Cientologia ao público e oferece aconselhamento a pessoas que se consideram vítimas do grupo. Também investiga as empresas filiadas à Cientologia.
"Para mim, é como o pensamento de Hitler", explica. "Ele achava que os arianos governariam o mundo. A filosofia de L. Ron Hubbard é igual. As pessoas diziam de Hitler: "Ele é um pouco maluco". Agora dizem o mesmo de L. Ron Hubbard. Nós, alemães, sabemos o que quer dizer quando as pessoas pensam que alguém é só "maluco", o que vai significar se essa coisa algum dia virar realidade."
Caberta conta que a prefeitura fundou sua unidade porque, no final dos anos 80, as autoridades de Hamburgo começaram a receber queixas de molestamento vindas de inquilinos em prédios comprados por cientologistas. Os inquilinos alegavam que os novos proprietários queriam expulsá-los, para vender os apartamentos com lucros substanciais.
Segundo representantes, cientologistas licenciam o uso da chamada "tecnologia" -as técnicas de administração criadas por Hubbard. Os cientologistas dizem que essas não são empresas da igreja, mas integrantes do Instituto Mundial de Empreendimentos Cientológicos (Wise, que significa "sábio"), uma entidade legalmente distinta da Cientologia.
Também em Hamburgo, a ex-cientologista Gitta Gerken, 46, que trabalhou como corretora em uma dessas imobiliárias em 1994 e 1995, conta que, embora os corretores tivessem direito a comissões, aqueles que efetuavam uma venda eram imediatamente pressionados por seus colegas a doar o dinheiro.
Gerken também conta que era pressionada a gastar seu dinheiro com mais cursos e sessões de audição. Depois que ela e seu marido, também cientologista, haviam injetado aproximadamente US$ 270 mil na organização, ela se queixou junto a um capelão cientologista.
A organização entregou a seu marido um documento que o declarava uma fonte potencial de problemas, por não ter aplicado as regras da Cientologia para garantir um casamento feliz. O documento, com os nomes do casal, foi divulgado em publicações da igreja.
Ralf Burmester, um advogado de Hamburgo que representa ex-cientologistas, conta que muitos de seus clientes foram pressionados a contrair empréstimos grandes para pagar cursos da igreja. "Normalmente começa-se com um curso barato, digamos de US$ 40", conta, "e depois os cursos ficam cada vez mais caros. Tenho clientes que gastaram até US$ 180 mil em um ou dois cursos".

Tradução Clara Allain

Texto Anterior: Adeptos pagam para "libertar" a alma
Próximo Texto: A moda que vem de fora
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.