São Paulo, domingo, 13 de abril de 1997
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Educação: a riqueza das nações

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Esse foi o título da reportagem de capa do último número da revista "The Economist". A tese é simples: a capacidade do seu povo constitui o capital mais valioso de uma sociedade.
Apesar de óbvia, essa tese é levada a sério por poucos países. Nos testes de matemática e ciências aplicados em alunos de mais de 150 países, os EUA pegaram a 28ª colocação no primeiro e a 17ª posição no segundo. Cingapura foi o primeiro colocado nos dois testes. Em matemática, Coréia, Japão e Hong Kong vieram logo depois do primeiro colocado. Em ciências, foram a República Tcheca, o Japão e a Coréia. O Brasil não aparece na lista publicada.
A pesquisa procurou identificar as causas do sucesso ou do fracasso escolar em escala mundial. É claro que cada caso é um caso. Mas encontrei na reportagem algumas lições que me parecem generalizáveis.
Primeiro, a capacidade de investimento dos países tem pouco a ver com o sucesso educacional. Os estudantes americanos dispõem de recursos três vezes maiores do que os coreanos e, no entanto, o seu desempenho é muito inferior. O modo de investir conta mais do que o montante.
Segundo, o número de horas de aula tem pouco a ver com o sucesso escolar. O que importa é a qualidade do ensino. Terceiro, o ensino realizado em pequenos grupos não apresenta nenhuma vantagem sobre o que é feito em classes maiores. O que decide é a dedicação do professor.
Enviei cópia do artigo à minha amiga Joaninha, colega de primário e ginásio, que lecionou por mais de 40 anos. Destaquei quatro traços comuns das nações bem sucedidas: 1) professores e alunos gastam mais tempo na aritmética básica do que na matemática sofisticada; 2) os alunos são preparados para fazer as operações mentalmente, proibindo-se as calculadoras; 3) os livros didáticos duram muito tempo porque são submetidos a severos testes antes de serem escolhidos; 4) os alunos são observados atentamente de modo que, a qualquer sinal de dificuldade, os professores os socorrem com métodos de recuperação.
Realmente, disse-me ela, a grande ênfase era na aritmética básica; o treino no cálculo mental era intensivo; as calculadoras não existiam, e, nós, alunos, éramos divididos em seções A, B e C, sendo esta o principal foco de atenção dos professores.
Parece que em matéria de ensino não há muito o que inventar. As novas tecnologias ajudam muito, é claro. Mas ajudam mais quando combinadas com o trabalho intensivo e dedicado dos mestres. Nesse ponto, a preparação de bons professores por meio da TV Escola, no Brasil, é um trabalho louvável.
As pesquisas relatadas deixaram de mencionar que educação e política não combinam no campo da educação. É fácil fazer promessas nas campanhas eleitorais. O difícil é garantir o trabalho dedicado de professores competentes. Isso é o que conta.

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