São Paulo, domingo, 13 de abril de 1997
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Complica o comércio de importados

Restrição divide o setor

NELSON ROCCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os importadores de pequeno e médio portes estão revendo as suas estratégias de administração para enfrentar as medidas de restrição ao setor, implementadas pelo governo no mês passado.
As mudanças nos prazos de pagamento (leia quadro ao lado), que prevêem liquidação do negócio à vista, vão dificultar o comércio desses produtos e desde já dividem as opiniões de empresários.
Adolfo Canan, 53, dono da São Paulo Express (importadora de malas, brinquedos e presentes), diz que comprava com prazos de pagamento de 180 ou 240 dias.
Agora, ele deve recorrer aos bancos para poder pagar os 4.500 itens que compra por mês no exterior.
Como as medidas do governo punem compras com prazos inferiores a 360 dias, Canan diz que irá tentar ainda negociar créditos nos países onde compra os produtos que vende no Brasil.
O empresário aposta em outra alternativa para manter o seu negócio: rever a administração do caixa. "Terei de fazer o giro do dinheiro mais rápido."
Para Otávio Piva de Albuquerque, 44, dono do Empório Santa Maria, que vende bebidas e alimentos, as restrições têm pontos positivos e negativos.
"Os grandes fornecedores estão concedendo prazos superiores a 360 dias para pagamento. Mas os pequenos não querem mais vender para o mercado brasileiro."
O aspecto positivo apontado por ele é o aumento das vendas. "Com medo de não encontrarem determinado produto, as pessoas estão comprando mais."
Segundo ele, a elevação varia de 20% a 25%, dependendo do item.
Albuquerque diz estar negociando prazos com os fornecedores, mas pagamento à vista é "a última" opção. "As empresas me davam 120 dias para pagar. Agora, perdi o giro por quatro meses."
Para absorver às mudanças, o empório está mudando as técnicas de logística para manter o atendimento. "Tivemos de reorganizar a casa para ganhar eficiência."
Por pouco tempo
"As medidas vão causar mais impacto do que efeito real." A afirmação é de Mauro Strengerowski, 40, diretor da Opeco, importadora de produtos eletrônicos.
Segundo ele, as dificuldades deverão durar de três a quatro meses, até que as empresas se acomodem.
Strengerowski diz que as restrições são benéficas ao setor. "As medidas vão eliminar os pára-quedistas." Nesse grupo, ele inclui pessoas "que pensam que importação é um negócio fácil".
A Opeco compra entre US$ 12 milhões e US$ 15 milhões por ano no exterior, entre calculadoras, aparelhos para telefonia e itens de informática.
Ednaldo Mendes Barbosa, 39, sócio da Purchase Order (importadora de escapamentos, catalizadores e máquinas para limpeza industrial), não está tão otimista assim. "Temos um desencaixe de dinheiro antecipado."
Ele, que fazia compras com prazos de pagamento entre 90 e 120 dias, agora deverá depositar o dinheiro no Banco Central quando os produtos chegarem ao Brasil.
Barbosa, que compra US$ 300 mil ao mês, diz que terá de repensar os volumes importados.

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