São Paulo, domingo, 13 de abril de 1997
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'Medidas são de médio prazo', diz consultor

SIMONE CAVALCANTI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O setor de franquias também poderá sofrer com as medidas do governo para conter as importações. Mas por pouco tempo, segundo o consultor Roberto Cintra Leite.
"São medidas de curto e médio prazos para reverter o saldo da balança comercial. Quando isso estiver normalizado, acho que o governo vai ser mais flexível", afirma Leite, 54.
Segundo ele, as medidas não podem ser por longo período porque colocariam em risco a saúde financeira de franquias, podendo até aumentar o índice de mortalidade desse tipo de negócio.
"A dificuldade imposta para as formas de pagamento das importações gera um efeito em cadeia, atingindo todo o mercado, inclusive o de franquias", diz.
Para Leite, os franqueadores de empresas estrangeiras serão afetados, já que os equipamentos e grande parte das matérias-primas empregadas são importados.
Ele aponta ainda como dificuldade a obrigatoriedade de pagamentos à vista por produtos que antes podiam ser financiados.
"Se o franqueado não estiver capitalizado, com dinheiro em caixa, haverá baixa no capital de giro."
Para Leite, as medidas impostas pelo governo diminuem o número de concorrentes e a competitividade dos importados no mercado nacional.
Lucro reduzido
O diretor comercial da Dollar Days, Duilio Montanari, 40, conta que os juros no exterior são mais baixos do que os internos e, com as medidas, os produtos importados terão custos iguais aos nacionais -os preços dos importados serão revisados.
"No nosso caso fica difícil repassar o custo ao consumidor, porque a nossa política é ter produtos com preços de até US$ 10."
Montanarini diz ainda que o capital de giro será afetado e a margem de lucro terá de ser reduzida em cerca de 4%.
Segundo ele, isso representa uma perda considerável, porque as empresas já têm trabalhado com margens pequenas para conseguir manter a competitividade.
"Vamos absorver os custos e manter os estoques para poder abastecer as lojas da rede e não perder mercado."
Francisco Lami, 35, diretor comercial e de importações da Federal Discount (rede norte-americana de vitaminas, cosméticos e produtos de higiene pessoal), conta que a empresa tem estoque autofinanciado pelos Estados Unidos.
Mesmo assim, se a franquia quiser trazer algum lançamento para o mercado brasileiro, terá de usar o capital de giro para pagar à vista.
"Trabalhar com um sistema que abastece o estoque conforme a necessidade da demanda é uma boa opção, mas o financiamento de 90 dias era a saída para manter o capital em caixa."
Lami afirma que algumas empresas se estruturaram de acordo com a abertura econômica dada pelo governo, mas que agora é preciso estar preparado para enfrentar as medidas atuais. "O fluxo de caixa deve ser suficiente para situações emergenciais como essa."
Para Paulo José dos Santos, 41, gerente-geral da Uniprice (rede de lojas que trabalha com preço único), o problema das medidas do governo é a rotatividade de produtos no mercado.
"Quem tem crédito, compra mais. Quem não tem, diminui", diz ele, comparando as empresas ao próprio consumidor.
"Com as novas regras, as franquias que têm no produto importado a fonte de abastecimento diminuem o crescimento e passam a andar a passos bem mais curtos", afirma Santos.

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