São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 1997
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Empresas têm metade da dívida externa

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

O setor privado foi responsável, no ano passado, por quase metade da dívida externa total brasileira, um fato sem precedentes, segundo mostram dados preliminares do Banco Central.
O desenho do perfil do endividamento externo brasileiro, no ano passado, foi traçado a partir de dados não consolidados do Banco Central pela Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica).
O endividamento externo total, segundo a equipe técnica da Sobeet, atingiu aproximadamente US$ 175 bilhões em 1996, representando um crescimento de mais ou menos 42% em relação a 1992.
Essa expansão, ressaltam os economistas da Sobbet, contrasta nitidamente com a estagnação do endividamento externo no quinquênio anterior.
A dívida externa brasileira manteve-se, de 1987 a 1991, no mesmo patamar devido ao fechamento do mercado internacional de crédito aos países devedores em crise no balanço de pagamentos.
Pontos positivos
A economista Maria Helena Zockun, presidente interina da Sobeet, destaca dois fatos positivos na expansão do endividamento externo do setor privado nos últimos cinco anos:
1) o setor privado, quando se endivida, faz projeções mais precisas da capacidade de pagamento do que o setor público, exercendo menos pressão sobre as reservas internacionais do país;
2) o novo perfil é uma expressão da maior aceitação de papéis do país no mercado internacional, confirmando a redução do "risco Brasil" e a confiança externa na economia brasileira.
A economista Maria Helena Zockun diz que isso mostra que são infundados os temores de que os déficits da balança comercial e em transações correntes do balanço de pagamentos estejam ameaçando o Plano Real.
"Esses temores supõem -e os números desmentem- que o interesse no país vá cair e que tenhamos dificuldades de captar recursos no mercado internacional de capitais no futuro", afirma a economista.
A Sobeet ressalta que a dívida externa brasileira de médio e longo prazos já representa 41,7% do total, em função da diminuição do chamado "risco Brasil", da presença constante de títulos brasileiros de boa liquidez e da queda do custo médio de captação de recursos por meio de bônus de 12%, em 1992, para cerca de 9,5%, em 1996.
Curto prazo
A participação privada, segundo a Sobeet, é dominante, igual a 99,92%, na dívida de curto prazo, de até cinco anos, respondendo por 37% da dívida de médio e longo prazos em comparação com os 22% de cinco anos atrás.
O endividamento público de médio e longo prazo registrou um aumento de apenas US$ 2,3 bilhões nos últimos quatro anos.
Refletindo a boa acolhida, nos principais centros financeiros internacionais, das suas emissões de bônus, notas e títulos, o setor privado foi responsável por US$ 44,3 bilhões do estoque da nova dívida externa total, contraída nos últimos quatro anos.
A Sobeet estima esse estoque, de janeiro de 1993 e dezembro de 1996, em US$ 39,9 bilhões, devido à redução da dívida externa do setor público em US$ 4,4 bilhões do setor público.
Desse total de US$ 44,3 bilhões da nova dívida privada nos últimos quatro anos, US$ 28,7 bilhões são de médio e longo prazos e US$ 15,5 bilhões são de curto prazo, correspondentes principalmente a obrigações de bancos comerciais.

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