São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 1997
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Alan Parsons 'faz ventar' em homenagem à aviação

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O filho pródigo do rock conceitual, que dominou os "toca-discos" há duas décadas (ou ainda se dizia "vitrolas"?), dá show em São Paulo.
Alan Parsons, que já vendeu 30 milhões de discos, foi indicado para 12 Grammys e acaba de lançar "On Air", disco que trás de brinde um CD-ROM sobre a história da aviação, inicia uma carreira solo.
Largou o "Project", em 92, e passa a tocar com músicos como Jacqui Copland (ex-Duran Duran).
Parsons surgiu na esteira de bandas que seguiram à risca a revolução detonada pelos Beatles, em "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", álbum que mistura música pop com erudita.
Os Beatles propuseram a seu público que parassem um instante e escutassem o que compunham. Pink Floyd foi além. Exigiu ouvidos atentos de um público que comprava discos para chacoalhar os quadris. Nasceram Yes, Emerson Lake & Palmer, Genesis e outros.
Quando os ouvidos já estavam poluídos de teclados que faziam barulho de vento, e quando os punks começaram a ser punks, Alan Parsons, ex-engenheiro de som dos Beatles e Pink Floyd, decidiu resistir e fazer ventar novamente.
Lançou "Tales of Mystery and Imagination" (1976) e "I Robot" (1977). De lá para cá, atravessamos o punk, o grunge, e Parsons continua cercado por cabos de máquinas que reproduzem qualquer som. Alan Parsons falou à Folha, de Londres, pelo telefone.
*
Folha - Todos os seus álbuns são temáticos. Essa é a marca do rock conceitual?
Alan Parsons - Pode também chamar de rock temático.
Folha - Como é fazer música temática num momento de explosão da cultura dance?
Parsons - Tenho de admitir que meu público tem mais de 30 anos e gosta ainda de ouvir um bom som.
Folha - As pessoas devem ficar sentadas e escutar o show ou devem sair pulando?
Parsons - Na primeira metade, devem escutar, como se tivessem fumado um baseado. Depois, podem recolher as mesas e cadeiras, que vão todos dançar.
Folha - Você troca de músicos a cada fase de sua carreira. Como os escolhe?
Parsons - Pelo talento. Às vezes, componho e penso "esta música ficaria bem para o fulano". Aí convido ele.
Folha - O que exatamente você fazia como engenheiro assistente dos Beatles?
Parsons - Eu era do staff do estúdio Abbey Road. Estava sob o comando de George Martin (produtor da banda, considerado o quinto Beatle). Eu operava os gravadores.
Folha - Não interferia no som da banda.
Parsons - Não. Isso ficava a cargo do Martin e dos quatro Beatles. Eles eram interessados em novo sons. Viviam pesquisando.
Folha - Eram bons instrumentistas?
Parsons - O Paul, sim, tocava guitarra, baixo, piano. É um dos melhores baixistas que conheço. Já o John Lennon, tenho de confessar, não tinha muita habilidade. Mas era o homem das idéias.
Folha - Você notava alguma briga ou um clima tenso?
Parsons - Havia tensão, mas não havia briga. Nos últimos dias, nós tínhamos de gravar eles em separado. Paul num dia, Ringo no outro. Nós sabíamos que aquilo ia acabar.
Folha - Mudou muito o tipo de equipamento usado em estúdio?
Parsons - Era muito limitado. Usávamos apenas quatro canais. Hoje, é ilimitado. Mas isso cria outro problema. As opções são tantas, que há um abuso, e o som fica poluído. Ficamos em dúvida diante de tantas opções. O segredo é escolher certo os instrumentos e o timbre, papel quer cabe ao produtor.
Folha - E "Dark Side of The Moon" (Pink Floyd), quanto tempo durou sua gravação?
Parsons - Um ano.
Folha - Foi você quem criou os sons de "Money"?
Parsons - Foi o Roger (Roger Walters, fundador e letrista da banda). Nós fabricávamos as máquinas. Máquinas enormes, que ocupavam quase uma sala. Nós criávamos os efeitos. Hoje, qualquer teclado japonês tem todos os efeitos que antes demorávamos dias para fazer.
Folha - Qual a diferença de trabalhar com os Beatles e com o Pink Floyd?
Parsons - Pink Floyd era mais relaxado. Não tão assediados como os Beatles. Havia menos pressão e mais camaradagem. Às vezes, me ligavam uma da manhã para jogar conversa fora.

Show: Alan Parsons
Quando: hoje e amanhã, às 22h
Onde: Olympia (r. Clélia, 1.517, Pompéia, zona oeste, tel. 65-3258)
Quanto: de R$ 35 (setor B) a R$ 65 (camarote)
Censura: 14 anos

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