São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 1997
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Em causa própria

VALDO CRUZ

Brasília - De tempos em tempos, cada vez com mais frequência, os parlamentares pegam carona em algum projeto em votação no Congresso para tomar medidas em benefício próprio.
É o caso da reforma administrativa. A proposta do governo acaba com alguns privilégios do funcionalismo público. Quebra a estabilidade como ela é hoje, criando possibilidade de demissão de servidores estáveis.
Pois bem, os senhores deputados e senadores estão fazendo exatamente o contrário quando as mudanças tratam de seus interesses.
Por exemplo: você, leitor, gostaria de ter o poder de aumentar o seu próprio salário? A resposta, com certeza, deve ser um estrondoso sim.
E, além de ter o poder de se autoconceder um reajuste, que tal um percentual de aumento de 35%? Quase a inflação de todo o governo Fernando Henrique Cardoso, ou dois anos e três meses.
É exatamente isso o que os deputados e senadores estão armando na votação da reforma administrativa. Aprovada a proposta, o salário dos parlamentares pode pular dos atuais R$ 8.000 para R$ 10,8 mil.
Com certeza, algum deputado ou senador se defenderá dizendo que, desde o início do governo FHC, seu salário não sofreu nenhum reajuste. Um argumento fajuto.
Primeiro, a maior parte dos funcionários públicos está na mesma situação. Por que eles não estendem o aumento aos demais servidores públicos?
Além disso, os parlamentares podem ganhar até 19 salários por ano, seis a mais que os demais assalariados.
Fora o aumentinho de 35%, os políticos sonhavam em aprovar também aquela emenda que autoriza os privilegiados do Congresso a ganhar mais do que o teto de R$ 10,8 mil.
A reação foi tão negativa que os governistas já admitem que podem desistir desse privilégio.
Agora, é conferir no dia da votação. Afinal, legislar em causa própria continua sendo uma prática do Congresso. Um vício do qual deputados e senadores não conseguem se livrar. Ou melhor, não querem se livrar.

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