São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MST vai exigir assentamento de 750 mil

DANIELA FALCÃO; PATRÍCIA ZORZAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os dirigentes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) que se encontram hoje às 16h com o presidente Fernando Henrique Cardoso vão exigir que o governo assente pelo menos 750 mil famílias até o fim de seu mandato, em 1998.
Também querem que o Ministério da Justiça interfira no julgamento dos policiais que participaram da chacina dos 19 sem-terra em Eldorado do Carajás (sul do Pará), apressando o processo.
Segundo João Pedro Stédile, da direção nacional do MST, os sem-terra não estão indo negociar com FHC, mas discutir um projeto político. "Vamos ensinar como deve ser feita a reforma agrária. Vamos provar que o governo manipula números e que nossas reivindicações são viáveis."
Sobre as eventuais dificuldades que o governo terá para cumprir a meta proposta pelo MST, Stédile disse que isso é "problema do presidente" e que os sem-terra não abrirão mão de suas reivindicações. "Não viemos aqui para negociar", declarou.
O MST preparou um dossiê para contestar as informações que vêm sendo dadas pelo governo sobre quantas famílias já foram assentadas e os respectivos custos. O relatório será entregue ao presidente durante a audiência.
É grande a diferença entre os números divulgados pelo MST e pelo governo. FHC afirma ter assentado 104 mil famílias até agora e tem como meta assentar 280 mil até o fim de 98. O custo para assentar uma família seria de R$ 40 mil.
O MST contesta os números oficiais. Usando informações do censo agrário do próprio Incra, argumenta que o número de famílias assentadas é de 64 mil, sendo que apenas 19 mil foram de fato assentadas em áreas desapropriadas pelo governo FHC.
Outras 18 mil famílias foram assentadas em terras que haviam sido desapropriadas por governos anteriores. As 27 mil restantes já estavam assentadas e tiveram apenas sua situação regularizada.
Além do ritmo das desapropriações e da punição dos policiais que participaram da chacina, o MST vai discutir a política econômica.
Na noite de anteontem, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) e o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) -que foram os articuladores do encontro entre os sem-terra e FHC- acertaram os detalhes finais da audiência com o ministro interino da Justiça, Milton Seligman, e José Lucena Dantas, chefe do gabinete pessoal da Presidência.
A audiência vai durar uma hora (o MST queria pelo menos duas) e terá a participação de oito representantes do governo e 15 dos sem-terra. Entre os representantes do governo estarão os ministros Arlindo Porto (Agricultura), Raul Jungmann (Política Fundiária) e Milton Seligman.
O MST aproveitará a audiência para convidar o presidente a visitar os acampamentos dos sem-terra na região do Pontal do Paranapanema, onde aconteceria a segunda etapa da reunião.
(DANIELA FALCÃO)

Colaborou Patrícia Zorzan, enviada especial a Brasília

Texto Anterior: Manifestação segue disciplina militar
Próximo Texto: Medidas de FHC são "perfumaria", afirma líder do MST
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.