São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 1997
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Manifestação segue disciplina militar

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA; DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

e do enviado especial a Brasília
A marcha dos sem-terra entrou em Brasília disciplinada à semelhança de um parada militar e coordenada como se fosse um desfile de escola de samba. A estratégia dos líderes era evitar que os sem-terra se dispersassem ou reagissem a eventuais provocações ao longo do percurso.
Antes de sair dos acampamentos ontem pela manhã, todos os sem-terra foram uniformizados com bonés vermelhos e camisetas brancas com a sigla do MST pintada também de vermelho.
Todos receberam instruções para marchar em fila indiana e obedecer às ordens dos seguranças do MST, que se destacavam dos demais membros da marcha por uma faixa preta no braço.
Os sem-terra estavam tão esforçados em manter as filas indianas e não perder o ritmo (criando buracos nas colunas), que mal prestavam atenção ao discurso dos líderes, que estavam em cima do caminhão de som que puxava a marcha.
O rigor dos seguranças era tanto que João Pedro Stédile, membro da direção do MST, quase foi expulso da marcha porque estava andando na contra-mão, tentando chegar ao fim da fila.
O dia culminante da marcha não registrou nenhum incidente sério, apesar da expectativa de que poderia haver violência ou confrontos.
Segundo Luiz Roberto Gomes Bichara, coordenador de operações da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, não houve nenhuma ocorrência registrada em delegacias de Brasília e imediações.
Ainda assim, o esquema de segurança para alguma eventualidade estava armado. Cerca de 2.000 PMs policiavam a Esplanada dos Ministérios. O trânsito foi desviado.
Houve um momento de tensão, por volta das 15h, quando "agregados" à marcha ameaçaram invadir o Ministério da Educação. Eram cerca de 5.000 manifestantes, boa parte professores e alunos, que criticavam a política educacional do governo.
Cem soldados da tropa de choque da Polícia do Exército e outros 400 PMs cercaram o ministério. Dentro do prédio, os soldados estavam armados com metralhadoras, bombas de gás lacrimogêneo e fuzis, mas não eram visíveis aos manifestantes. Isso ajudou a dirimir a tensão: os "agregados" desistiram então da invasão.
Depois, quando se aproximaram do Planalto, outros 450 soldados da PM formaram barreiras duplas em frente ao prédio. A chuva acabou auxiliando a esvaziar o local.
Todas as ações foram acompanhadas por um helicóptero militar, que voava a baixa altitude.
Agentes da Polícia Federal ficaram sobre os prédios da Esplanada dos Ministérios e gravaram as principais cenas da manifestação.

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