São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 1997
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Lições de NY contra o crime

BISMAEL B. MORAES

Recentemente esteve em São Paulo William Bratton, ex-chefe de polícia de Nova York, dando palestra na Fiesp sobre "Violência e Segurança". Procurou mostrar o sucesso de sua gestão na organização policial daquela cidade, que diminuiu o índice de infrações penais. A platéia era composta, em grande parte, por empresários, integrantes da PM e da Polícia Civil.
Bratton -apresentado por órgãos de imprensa como "xerife americano"- sempre foi policial municipal. Em 1970, era sargento de polícia de Boston. Mais tarde, pelas mãos do prefeito de Nova York, chegou à chefia de sua polícia, de onde saiu em 1996.
Depois de dar números sobre investimentos em segurança, disse ter procurado enfrentar inicialmente infrações menores. Para ele, a polícia requer gastos, e o seu lucro é só a redução dos crimes.
Ele encontrou a polícia de Nova York no sistema dos "três R" e levou-a ao sistema dos "três P".
O primeiro sistema (3R) era assim: 1) reação rápida após o crime, sem analisar os problemas originários; 2) ronda preventiva aleatória, como se não houvesse objetivo; 3) repressão investigativa, ocupando-se do fato ocorrido.
O segundo sistema (3P) ficou assim: 1) parceria com a comunidade, recebendo sugestões e auxílio para melhorar o policiamento; 2) problemas resolvidos, com viaturas, comunicações, armas etc., e resultados divulgados; 3) prevenção maior, com planejamento, visando à diminuição dos crimes.
É fácil assim deduzir medidas para diminuir a violência e o crime: a) fiscalizar e coibir fatos menores (algazarra fora de hora, grafiteiros, rachas de carros e motos, bebidas a menores etc.); b) desenvolver o policiamento comunitário, tornando a polícia de rua mais amiga e acessível; c) aumentar a prevenção, com o policial atuando de forma planejada, e não patrulhar aleatoriamente; d) procurar desenvolver métodos de reduzir os crimes, e não só reagir a eles; e) motivar os policiais, com salário digno e perspectivas de ascensão.
De resto, as pessoas nascem, criam-se, vivem e morrem nos municípios. Há, desde 1994, proposta da OAB para que a polícia preventiva-ostensiva seja municipalizada, porque é municipal o policiamento da imensa maioria das cidades (como Nova York).
Mas, como aplicar em São Paulo -e em outras cidades brasileiras- o que deu certo em Nova York, se aqui há duas polícias estaduais (uma delas militar!), e os governadores querem o comando de seus pequenos exércitos, pouco importando a segurança do povo?

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