São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 1997
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Falta de material impede perícias no Rio

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Incapaz de analisar as balas que mataram 21 pessoas em Vigário Geral em 1993, o ICCE (Instituto de Criminalística Carlos Éboli), da Polícia Civil, acumula carências. Faltam até filmes para a perícia fotografar os locais de crimes.
Mesmo quando um perito, por conta própria, consegue um filme, surge um segundo problema: não há no ICCE papel para ampliar a fotografia.
A precariedade da perícia fotográfica do ICCE é um detalhe. "Falta tudo no ICCE", disse ontem à Folha o chefe de Polícia Civil, delegado Hélio Luz.
O "tudo" citado por Luz é vasto. Também faltam ao Instituto de Criminalística ar refrigerado, papel para a confecção de laudos, geladeiras, material de limpeza, computadores, máquinas de escrever, mobília, arquivos atualizados, telefones e profissionais.
A carência de pessoal foi um dos motivos apresentados pelo ICCE para não realizar o exame das nove balas recolhidas junto das ossadas de vítimas da chacina de Vigário Geral.
O ICCE pediu ao Instituto de Criminalística de Minas que fizesse a confrontação das balas com as armas apreendidas com os acusados pela matança, ocorrida há quase quatro anos. Na chacina, em 93, morreram 21 pessoas. Os acusados são policiais.
O laudo feito em Minas chegou ao 2º Tribunal do Júri na véspera do julgamento de 17 acusados. O julgamento, que deveria ter acontecido anteontem, teve que ser adiado por causa disso.
Em documento enviado ao juiz José Geraldo Antônio a respeito da incapacidade de realizar o exame, o ICCE diz que tem apenas dois peritos em balística, contra seis em 95. O número de peritos de descrição (descrevem o exame balístico) caiu de oito, há dois anos, para um.
Baixos salários
Na Polícia Civil, a evasão de profissionais é creditada, em parte, aos baixos salários.
Um perito criminal com 30 anos de serviço e vários cursos no exterior ganha salário de R$ 250 mensais. Com adicionais, o vencimento chega a R$ 1.050,00.
Para o chefe de Polícia Civil, o fato de os peritos ganharem mal não é desculpa. "Eu ganho R$ 2.000,00 para chefiar a polícia. Podia alegar que ganho mal e não fazer nada. Falta tudo, mas o que falta mesmo é boa vontade", disse Luz.
"Como agora acalmou, estamos mexendo na parte administrativa", disse Luz, que pretende em três meses transferir o ICCE da sede do IML (Instituto Médico Legal) para um prédio em fase final de construção no centro do Rio.
Segundo Luz, o prédio terá equipamentos modernos e será subordinado à Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado.
Suspeito
Dono da arma que teria matado uma vítima da chacina de Vigário Geral, o ex-PM Gilson Nicolau Araújo é considerado suspeito pela polícia de ter assassinado em 30 de março deste ano o suposto ladrão Raphael Carvalho de Freitas.
Araújo é um dos 51 acusados pela chacina de Vigário Geral.
Laudo do Instituto de Criminalística de Minas Gerais aponta Araújo como dono de uma pistola calibre 7,62 usada na chacina.
Em liberdade provisória desde o ano passado, Araújo está sendo investigado pela 31ª DP (Delegacia de Polícia), em Ricardo de Albuquerque (zona norte), como autor dos três disparos de pistola que mataram Freitas, 16.
O ex-PM teria reagido ao assalto sofrido por seu irmão. No depoimento, Araújo nega ter envolvimento na morte do adolescente.

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