São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 1997
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Crédito fica mais caro e as Bolsas caem

DA REPORTAGEM LOCAL

A decisão do governo de manter o juro básico da economia em 1,58% até o final de maio teve impacto direto sobre as expectativas do mercado financeiro. Ontem, as principais consequências foram o aumento do custo dos empréstimos e a queda de 1,5% dos preços das principais ações nas Bolsas.
Os empréstimos para grandes empresas, por exemplo, nos quais a margem de lucro dos bancos é praticamente nenhuma, passaram a custar cerca de 21,5% ao ano. No dia anterior, essa taxa era de 21%. Alguns bancos chegaram a pedir 22% de remuneração, mas sem encontrar clientes na outra ponta.
Marcelo Saddi Castro, diretor de renda fixa do Lloyds Asset Managment, lembra, porém, que se houvesse nova queda de 0,02 a 0,04 ponto na taxa básica o efeito na ponta do crédito seria mínimo.
Nos empréstimos entre os bancos, do chamado mercado interbancário, o custo para operações de um dia também subiu. No momento de maior nervosismo, essa taxa chegou a ser equivalente a custo mensal de 1,71%. No dia anterior estava em 1,69%.
Assim o governo conseguiu elevar os juros das aplicações no mercado interno, mesmo mantendo os juros básicos para maio.
Ontem um investidor estrangeiro conseguia rendimento de cerca de 9%, já descontados os impostos e a variação cambial. Na quarta, essa taxa era de 8%.
A intenção do governo, com esse movimento, é frear a saída de dólares do país. Em abril, além de uma saída estimada de US$ 600 milhões, houve o pagamento de uma parcela da dívida externa brasileira, que custou US$ 1,5 bilhão.
Agora o mercado financeiro procura antecipar os próximos passos do governo na tentativa de pôr em ordem as contas externas do país.
Para uns, o governo terá de elevar os juros básicos para junho para conseguir garantir o fluxo de dólares para o mercado interno.
Nesse caso, outra opção seria reduzir o ritmo das desvalorizações do real em relação ao dólar.
Outros acreditam que o governo precisará tomar medidas de restrição ao crédito, reduzindo o consumo, desestimulando as importações e estimulando as exportações.
"O governo deverá restringir o crédito para automóveis e eletroeletrônicos. Com isso poderá continuar reduzindo gradualmente os juros básicos", considera Castro.
Para ele, os juros básicos devem cair de 1,58% para algo próximo a 1,50% até o final do ano, o que representa uma taxa ainda bastante alta de 19,6% ao ano.
O raciocínio, no entanto, parte da premissa de que os juros básicos dos EUA subirão no máximo mais 0,25 ponto percentual, chegando a 5,5% ao ano.
Indústria
O diretor do Departamento de Economia da Fiesp, Boris Tabacof, considera que, mesmo que o governo decida restringir o crédito para automóveis e eletroeletrônicos, o efeito sobre a balança comercial será pequeno.
"A decisão de manter os juros estáveis está ligada ao problema das contas externas. Por isso, será ineficaz cortar o consumo desses setores, cujas importações não têm tanto peso assim", disse.
Antonio Carlos Romanoski, diretor-presidente da Electrolux do Brasil, não acredita que os juros possam vir a subir.
Para ele, os juros devem ficar estáveis e podem até cair.

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