São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 1997
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Baudrillard é atacado por escrever para revista

ANNETTE LEVY-WILLARD
DO "LIBÉRATION"

"A extrema direita ataca a arte contemporânea" é a manchete da publicação "Art Press" que aparece nas bancas neste mês ("Art Press" 223, abril de 1997), com capa vermelha e preta escrita nas letras góticas tão apreciadas durante o Terceiro Reich.
É uma mensagem inequívoca de denúncia da curiosa coalizão de intelectuais, em sua maioria de esquerda, que se aliam a escritores, em sua maioria de direita, na revista "Krisis" (número 19, novembro de 1996), para fazer uma campanha contra a arte moderna.
Lançada pela "Esprit", a discussão sobre a suposta "nulidade" da arte contemporânea foi retomada na imprensa nacional francesa ("Le Figaro" e "L'Événement du Jeudi").
A ofensiva da extrema direita contra a arte moderna não é nova -Hitler já havia começado a destruir tudo o que lembrasse arte moderna-, mas voltou à tona recentemente.
A "Art Press" lembra que, em seu número de março de 1979, já havia denunciado a falta de vigilância de uma parte da intelligentsia de esquerda com relação ao discurso da Nova Direita de Alain de Benoist:
"Essas teses duvidosas sobre o berço 'indo-europeu' de nossa cultura ocidental... Essa exaltação das mitologias pagãs, esse discurso violentamente antiburguês, anticapitalista e anticosmopolita, tudo isso nos parece, no mínimo, suspeito".
Hoje, a participação de Jean Baudrillard, Jean-Philippe Domecq, Jean Clair (diretor do Museu Picasso) e do artista Ben no último número da "Krisis" torna obrigatório, 20 anos depois, refazer a demonstração, reexplicar quem são Alain Benoist, o Grece (Grupo de Pesquisas e Estudos da Civilização Européia), a Nova Escola, a Nova Direita...
Nova Direita
Tanto assim que, nos anos 90, as idéias da Nova Direita abriram caminho e hoje já ultrapassam o âmbito dos pequenos círculos de intelectuais.
Ganharam o cenário político, com personalidades como Jean-Yves Le Gallou (publicado por Alain de Benoist), fundador, ao lado de Bruno Mégret, do Conselho Científico da Frente Nacional, em 1989.
Assim, a revista "Art Press" vai se basear nos símbolos e imagens nazistas utilizados nessas diferentes publicações para tentar provar que Alain de Benoist não é um intelectual como os outros, assim como Le Pen não é um líder político como os outros.
O próprio Alain de Benoist editou um livro sobre Wilhelm Petersen, pintor de mitos germânicos e desenhista correspondente de guerra para a SS.
O pintor nazista Petersen é um dos favoritos da literatura da Nova Direita, já que suas obras são retomadas para ilustrar especialmente a "Cartouches", revista do círculo de amigos do Grece.
Outro artista apreciado por de Benoist é Georg Sluyterman, que, em 1940, pintou um cavaleiro para a capa da revista "Germanien", do Instituto Cultural da SS.
O cavaleiro em questão ainda foi usado em cartões-postais para servir à propaganda política da Alemanha de Hitler. E, ainda hoje, é o logotipo da biblioteca neofascista Europa, em Roma.
A revista do Grece, "Etudes et Recherches", também reaproveita as capas da "Germanien", órgão da SS que ela retoma para seus próprios fins.
Assim, não chega a surpreender que na "Krisis" (que não contém ilustrações) se encontrem referências a Albert Speer, o arquiteto do Terceiro Reich, e ao escultor Arno Breker, outro artista oficial do Terceiro Reich.
Indagado a esse respeito, Alain de Benoist protesta contra esse suposto "ataque demolidor" do qual seria alvo, dizendo que suas revistas "publicaram milhares de ilustrações de pessoas de esquerda".
E o cavaleiro germânico que serve de capa da "Nouvelle Ecole"? "Não é uma ilustração nazista", diz ele. "E, por falar nisso, existem coisas muito bonitas publicadas durante o Terceiro Reich."
Alain de Benoiste nos lembra que denunciou a política cultural do Terceiro Reich na revista da Nova Direita, "Eléments".
E que também se posicionou publicamente contra as idéias da Frente Nacional. Segundo ele, a "Krisis" está sendo criticada porque "incomoda a algumas pessoas".
Seja como for, foi num contexto muito ambíguo que alguns intelectuais decidiram contribuir para a "Krisis", com entrevistas ou com a publicação de seus artigos.
Justificam sua atitude falando da necessidade de um diálogo cultural, da indiferença com relação ao suposto apoio (leia no box declaração de Jean Baudrillard), da diferença entre uma entrevista e um artigo (a primeira não representa um engajamento do entrevistado), como foi o caso de Jean Clair, de seu suposto desconhecimento da natureza da "Krisis".
No entanto, três membros da comissão de revistas do Centro Nacional do Livro (CNL) se demitiram em 1994 para protestar contra o apoio concedido pelo Estado à "Krisis", qualificando-a de revista de extrema direita.
"Ninguém pode contribuir para uma revista sem saber o porquê. Uma revista é uma máquina intelectual", explicou Corpet.
A "Krisis" continua sendo publicada "com o apoio do Centro Nacional do Livro".

Tradução de Clara Allain.

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