São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 1997
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Ieltsin vai à Alemanha e diz que acordo com a Otan sai em maio

Kohl promete ajudar a Rússia a se entender com organização

MARCELO MUSA CAVALLARI
DA REDAÇÃO*

Depois de se reunir com o chanceler alemão, Helmut Kohl, o presidente russo, Boris Ieltsin, anunciou que em 27 de maio assinará um tratado com a Otan em Paris.
Kohl prometeu ajudar a Rússia a se entender com a organização, que pretende se ampliar incorporando os países ex-comunistas do Leste Europeu. Mas não servirá de intérprete, afirmou.
Sem entrar em detalhes, Ieltsin disse que quase tudo estava acertado, mas faltam pontos importantes. "Temos de nos apressar." Os russos não querem que a Organização do Tratado do Atlântico Norte -criada para fazer frente ao poderio soviético- instale armas ou tropas nos novos países-membros, e que fazem fronteira com a Rússia. Esse é o principal ponto ainda sem acordo.
Ieltsin também entregou "um presente a Kohl": arquivos do ex-chanceler da República de Weimar Walter Rathenau e os arquivos do Partido Comunista da ex-Alemanha Oriental. Não falou nada sobre as obras de arte tomadas pelos russos na Segunda Guerra e que o Parlamento russo o impediu de devolver aos alemães.
No encontro de Baden-Baden, o quinto entre os dirigentes, Ieltsin contou com o amparo de Kohl quando tropeçou ao descer de um palanque e quase foi ao chão. Além de a Alemanha ser a principal parceira econômica da Rússia, Kohl é, hoje, o político mais próximo de Ieltsin no Ocidente.
Na verdade, a expansão da Otan não é prioridade do chanceler. A Alemanha e a França estão cada vez mais próximas na idéia de que a UE deve ser o sistema de segurança da Europa. O Reino Unido é contra.
A França ficou fora do comando conjunto da Otan por mais de 20 anos e está mais preocupada em "europeizar" o comando da organização do que em expandi-la para leste. Os EUA têm um peso excessivo na Otan, acham os franceses. Paris e Bonn já são, indiscutivelmente, o núcleo da UE. A discussão entre eurocéticos e euro-otimistas do Reino Unido é cada vez mais um assunto de interesse exclusivo dos britânicos. A adesão ou não à moeda única preocupa cada vez menos os países continentais.
Se se aproximar da Rússia e dividir com ela a responsabilidade sobre os países do Leste Europeu, a Alemanha poderá ser a grande articuladora de uma Europa unida do Atlântico ao Pacífico.
A Rússia -se puder sair do buraco econômico em que se meteu- tem potencial para ser a potência suficiente para substituir os EUA num sistema de segurança europeu. A Alemanha tem cacife para ajudá-la a sair do buraco. É o oposto da estratégia norte-americana, que expandindo a Otan, quer isolar a Rússia, que ficaria restrita a uma relação bilateral com os Estados Unidos.
Os EUA pretendem "neutralizar" a Rússia. A Alemanha está interessada em trazê-la para dentro da Europa e domesticá-la como ela própria, Alemanha, foi "domesticada" após a Segunda Guerra.

Com agências internacionais

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