São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997
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Usina falida é trunfo para invasão no Rio

ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A CAMPOS

A decadência das usinas de açúcar do norte do Estado do Rio transformou a região no novo foco de ação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Segundo o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Açúcar e de Álcool de Campos, o fechamento das usinas resultou em 20 mil desempregados. O município tem 400 mil habitantes e 30 favelas. Um em cada dez moradores da cidade é favelado, diz o prefeito Anthony Garotinho( PDT).
Na madrugada do dia 12, o MST fincou sua primeira bandeira nos canaviais de Campos, quando cerca de 400 pessoas invadiram as terras da Usina São João, que está parada desde junho de 97.
Na quinta-feira passada, os empregados da Usina São José, uma das nove que ainda estão em funcionamento, entraram em greve reivindicando o pagamento de nove meses de salários atrasados.
A crise do setor é tamanha que até o sindicato patronal -que representa as usinas do Estado- vai fechar suas portas. A entidade está com um ano de condomínio atrasado e tem apenas um funcionário, com salários também em atraso.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Açúcar e de Álcool de Campos, Jaudenes Batista, diz que existem mais de 3.000 ações trabalhistas em curso contra os usineiros.
Segundo o sindicato, na década de 80, as usinas chegaram a empregar 15 mil pessoas no período da entressafra (dezembro a junho) e 40 mil no período da safra.
Na entressafra deste ano, afirma Jaudenes Batista, o número total de empregados não passa de 4.000.
Ele afirma também que a maior parte das usinas não paga o piso salarial da categoria (R$ 216,30 por mês) e usa trabalhadores sem carteira assinada, contratados por empresas clandestinas fornecedoras de mão-de-obra.
Na semana passada, o sindicato dos trabalhadores fez uma inspeção nas usinas e encontrou 171 pessoas fazendo a limpeza de canaviais, sem contrato de trabalho. O presidente do Sindicato da Indústria e da Refinação do Açúcar nos Estados do Rio e Espírito Santo, Geraldo Coutinho, não comentou as acusações, mas responsabilizou o governo pela decadência da cultura canavieira e das usinas.
Segundo ele, os usineiros foram "induzidos" pelo extinto Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) a investir na ampliação do parque industrial, mas não houve investimentos na melhoria da produtividade dos canaviais.
No final da década de 70, as usinas do norte-fluminense atingiram uma capacidade de moagem de 16 milhões de toneladas de cana, enquanto a safra anual era de cerca de 6 milhões de toneladas.
Geraldo Coutinho diz que, nos últimos 15 anos, os usineiros têm alertado o governo para o problema e as queixas foram recebidas como "choro de profissionais".
Os canaviais do norte-fluminense ocupam uma área total de 240 mil hectares, mas têm produtividade inferior à dos canaviais do Nordeste. Segundo o consultor Rubens Vianna, os canaviais do Estado do Rio têm rendimento médio de 40 toneladas por hectare, contra uma média de 50 toneladas no Nordeste e de 80 a 85 toneladas por hectare em São Paulo. Com a decadência das usinas, o setor passou a responder por apenas 10% da receita de ICMS de Campos.

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