São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Estou com muita saudade da família"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Leia abaixo os principais trechos dos diários escritos pelos sem-terra que participaram da marcha que chegou no último dia 17 a Brasília.
*
Diário de Lianey Dias, 16, assentada em Nioaque (MS).
"Caminhamos por vários quilômetros e vimos grandes extensões de terra sem nenhum trabalhador. Só a mais pura soja." (3/3)

"Começou a chover bem forte. Todos os barracos ficaram dentro d'água. Colchões e bolsas com documentos molharam. Alguns companheiros conseguiram salvar suas bolsas com roupas. Apesar de tudo, os companheiros não perderam a animação, cantaram, gritaram palavras de ordem e iam pegando seus colchões dentro d'água."(3/3)

"Como homenagem ao Dia Internacional da Mulher, todas as companheiras foram para frente (da marcha) com faixas e bandeiras. Para dar início à caminhada, cantamos o hino do MST e a música 'Sem medo de ser mulher'." (8/3)

"Perto do acampamento (da marcha) tinha uma roça de milho. Vários companheiros apanharam milho sem pedir. O fazendeiro denunciou na rádio da cidade que os sem-terra roubaram o milho dele. Um dia depois, ele veio e nos disse que não queria que pagássemos o prejuízo. Pediu que a direção conscientizasse o pessoal para que não fizesse mais isso." (18/3)
*
Diário de Miguel Ostrufk, 32, acampado em Teixeira Soares (PR).
"Ontem vivemos o pior dia da marcha porque caiu uma chuva muito forte. Caíram até pedras. O pessoal estava chegando no acampamento, as barracas estavam todas montadas e a chuva de pedras destruiu tudo. Foi um desespero, mas até que a gente não perdeu muita coisa. Só não deu para dormir direito, tinha muita lama."

"Estamos perto de Sales Oliveira (MG), onde vamos parar para almoçar. De manhã, quando acordamos, teve uma briga com um caminhoneiro que parou o caminhão perto das barracas e disse que só saía de lá depois de matar pelo menos um sem-terra. A coordenação avisou a polícia e ele fugiu. Depois, quando já estávamos caminhando, ele voltou dirigindo e xingando de novo. Mas aí a polícia mandou ele embora de vez."
*
Diário de Milton Viana, 28, acampado em Nova Andradina (MS)
"A gente vê lugares muito bonitos. Tudo desativado. Acho que a miséria está tomando conta de nosso país. Por isso, a gente tem que lutar com muita garra. Está horrível (sic) as condições do povo trabalhador. Tem muita coisa bonita, mas está abandonada. Ninguém tem dinheiro (...)." (6/3)

"Eu vi um grande problema na coordenação do Mato Grosso do Sul. As pessoas faltaram com o respeito dentro da marcha." (22/3)

"Foi passado um filme da Coluna Prestes ('O Velho', de Toni Venturini) para nós assistirmos. É muito parecido com a luta de hoje." (2/4)

"Estou com muita saudade de toda a minha família. Eu quase não durmo pensando em vocês. Muita saudade." (10/4)
*
Diário de Amarildo Rodrigues Chaves, 56, acampado na Fazenda Giacometti (PR)
"Saímos da Fazenda Giacometti (...) no dia 16 de fevereiro. Fomos de ônibus para a praça da Sé em São Paulo e todos estavam cantando felizes. Tinha 152 pessoas do nosso acampamento e fomos em quatro ônibus."

Texto Anterior: Diários relatam os dias tensos da marcha
Próximo Texto: Jungmann compara sem-terra à UDR
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.