São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997
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Presidente enfrenta crise nas relações com a Igreja Católica

Assembléia Geral da entidade condena privatização da Vale

LUIS HENRIQUE AMARAL
ENVIADO ESPECIAL A ITAICI (SP)

Desde que assumiu o cargo, o presidente tucano Fernando Henrique Cardoso vem colecionando atritos com a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
Mantida sob um véu de cordialidade até agora, a crise entre a igreja e o Estado no Brasil veio a público depois que o ministro Sérgio Motta (Comunicações) acusou d. Luciano Mendes de Almeida, ex-presidente da entidade, de ser contra a privatização da Vale porque receberia um "dinheirinho".
Curiosamente, FHC conseguiu desagradar todos os setores do clero, desde os mais "progressistas", que se opõem à venda da Vale, até os mais "conservadores", que não se conformam com o fim do ensino religioso bancado pelo Estado nas escolas públicas.
A crise chegou ao ponto de fervura durante a 35ª Assembléia Geral da CNBB, que terminou sexta-feira em Itaici (bairro de Indaiatuba, a 110 km de São Paulo).
O governo já não tinha digerido o apoio político e operacional da igreja à Marcha Nacional pela Reforma Agrária, Emprego e Justiça, promovida pelo MST, quando chegaram novas notícias do clero.
Um documento do Ibrades, órgão da CNBB, acusou o governo de "corrupção" na aprovação da emenda da reeleição. O Planalto divulgou nota de cinco páginas -a mais longa de FHC- afirmando que a acusação era "falsa, desabonadora para o Congresso e insultuosa para o governo".
Segundo a Folha apurou, prevendo a reação governamental depois da divulgação do estudo, o presidente da CNBB, d. Lucas Moreira Neves, telefonou para o vice-presidente, Marco Maciel, explicando que não se tratava de uma posição oficial da entidade, mas de um "subsídio" para debates.
Maciel, integrante de um grupo de políticos católicos que defendem interesses da CNBB, é o principal interlocutor no governo do setor "conservador" da igreja.
Mesmo com a explicação, o Planalto divulgou a nota de resposta.
Em Itaici, ficou a impressão de que o governo tentava, com o barulho, desviar a atenção do que realmente o preocupava: a marcha do MST que se chegava à Brasília.
Para se prevenir de novas confusões, a CNBB decidiu que, nas próximas assembléias, os subsídios não serão entregues à imprensa.
Vale
Entre os documento oficiais da assembléia que criticam o governo FHC, o mais duro é o que trata da privatização da Vale do Rio Doce.
O assunto não constava da pauta prévia dos bispos. Mas a repercussão do ataque de Motta a d. Luciano provocou uma reação corporativa na CNBB que fez até um dos seus bispo mais conservadores, d. Amaury Castanho, de Jundiaí, defender em plenário uma declaração oficial contra a privatização.
Na segunda-feira, d. Luciano foi convidado para um encontro com FHC no Planalto. No dia seguinte, eles conversaram por uma hora. D. Luciano disse a amigos do clero que não ficou satisfeito com o encontro. O presidente se mostrou irredutível quanto à venda da Vale.

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