São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997 |
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Colcha lembra parceiro morto
AURELIANO BIANCARELLI
Souza, que não está infectado, participa do projeto Retalhos, criado pelo Grupo Pela Vidda (leia texto na página 3-7). A colcha mostra um semáforo onde cada cor é uma advertência. "É mais um protesto", diz Souza. Ele se "tortura" por não ter podido ajudar o companheiro. "Ele escondeu tudo de mim, me traiu. Eu sabia que ele saía com outros, eu só pedia que se cuidasse." Léo nunca revelou que estava com Aids e Souza só soube da doença oito meses antes de sua morte. "Quando o médico contou que ele já se tratava há três anos, eu me revoltei. Eu queria ter podido ajudar, mas ele preferiu o suicídio." Souza diz que vive cheio de mágoa. "Tínhamos combinado que quem morresse primeiro voltaria para buscar o outro. Ando pelas ruas do bairro na esperança de encontrá-lo. Venho aqui no grupo para ver a cadeira onde ele se sentava." Lena e Antonio Carlos se conheceram no Grupo Pela Vidda há dois anos. Os dois tinham Aids, estavam sozinhos e se casaram. Formavam um par apaixonado, dizem os amigos. Lena morreu seis meses atrás. Antonio Carlos, que trabalhava como segurança e estava bem de saúde, ajudou a fazer a colcha de Lena. A colcha tem flores de todas as cores sobre um fundo azul escuro. Quando o trabalho ficou pronto, Antonio Carlos caiu doente e morreu depressa. Será o próximo a ser homenageado. (AB) Texto Anterior: Rituais ligados à morte perdem espaço Próximo Texto: DEPOIMENTO Índice |
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