São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997 |
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Mãe que perdeu filha de 4 anos faz terapia
AURELIANO BIANCARELLI
Durante seis meses, Luísa fez terapia no laboratório do luto (Lelu) da PUC de São Paulo. "Foram meses difíceis, mas ricos", ela diz. Luísa (o nome é fictício), 41, é secretária e vivia separada. Naquele 18 de janeiro, a escolinha ligou no meio da tarde dizendo que Júlia estava com febre. Luísa levou-a para casa e ligou para o médico. Pouco antes das 21h, Luísa notou uma mancha escura nas costas da filha, como um hematoma. O médico pediu que fosse levada imediatamente ao hospital. "Chovia muito, o trânsito estava parado, meu pai dirigia o carro, eu tentava manter Júlia acordada. Quando a luz da recepção do hospital iluminou minha filha, vi que seu corpo estava preto." Luísa diz que não se lembra o que aconteceu depois. Os médicos gritando, as pessoas correndo, ela chorando. Uma hora e meia depois Júlia estava morta na UTI. "Não cheguei mais a vê-la. Eu não acreditava no que estava acontecendo. Não podia ser comigo. Eu criei minha filha sozinha, ela não podia ir embora assim." As pessoas a cercavam de atenção, mas a terra fugia a seus pés. Pouco depois os Mamonas Assassinas morreram e as crianças da escolinha de Júlia escreveram um bilhete. "Não fique triste. Os Mamonas vão cantar para ela." \Júlia mudou-se do apartamento onde viveu com a filha e dedicou-se aos pais, inconsolados com a morte da neta. Hoje Luísa pensa em ter outro filho ou adotar uma criança, mas ainda tem medo. "Fico pensando no que eu passarei para esta criança. O tempo vai ajudar" diz. (AB) Texto Anterior: DEPOIMENTO Próximo Texto: Grupo faz colchas para lembrar mortos Índice |
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