São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997
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Doping

MICHAEL BAMBERGER; DON YAEGER
DA "SPORTS ILLUSTRATED"

Não é nenhum segredo que drogas que aumentam a performance têm sido usadas em Olimpíadas por décadas.
O que é surpreendente é que 25 anos após a introdução de testes antidoping supostamente rigorosos de atletas olímpicos, o uso de substâncias proibidas está aparentemente mais disseminado e efetivo do que nunca.
"Existem esportistas que podem ganhar medalhas sem tomar drogas, mas são poucos", afirma o médico holandês Michel Karsten, que diz ter receitado esteróides anabolizantes para centenas de atletas de alto nível, de diversas modalidades, nos últimos 25 anos.
"Se você é especialmente dotado, você poderá ganhar uma vez. Mas, pela minha experiência, você não continuará vencendo sem drogas. O setor está simplesmente lotado de usuários de drogas."
O uso de esteróides e de substâncias mais exóticas como o hormônio de crescimento humano (hGH) se espalha não apenas em esportes olímpicos.
Está presente em quase todos os esportes, da liga profissional de beisebol ao basquete amador universitário. É o sujo e universal segredo do esporte próximo ao final do milênio.
Muitos ligas profissionais não fazem controles. E, quem faz, não consegue amedrontar seus atletas. Nos últimos Jogos, em Atlanta, o Comitê Olímpico Internacional (COI) sancionou exatos dois testes positivos, em um universo de 11 mil atletas, 2.000 deles submetidos a testes antidoping.
Nenhuma medalha foi confiscada e, considerando números anteriores -Barcelona/92 teve cinco positivos e Los Angeles/84, recordista, 12-, poderiam ser considerados os mais limpos desde o início do controle em larga escala, ocorrido em 72. Engano.
Atletas, treinadores e executivos esportivos ouvidos pela "Sports Illustrated" dizem que Atlanta foi um verdadeiro carnaval de doping. E poucos se mostraram surpresos por apenas dois casos terem sido detectados.
"Atletas são laboratórios que andam, e os Jogos, campos de prova para cientistas, químicos e médicos aéticos", afirma Robert Voy, diretor de doping do Comitê Olímpico dos EUA em 84 e 88.
Donald Catlin, diretor do laboratório de testes da UCLA, credenciado pelo COI, apesar de não acreditar que "todos estavam dopados em Atlanta", faz uma notável admissão: "O atleta de ponta que quer usar drogas muda para coisas que não conseguimos detectar".
Nos próximos dias 22 e 23, o COI se reúne para discutir o problema. Muitos dizem que o resultado de Atlanta comprova a intimidação obtida pelos testes. Mas os críticos afirmam que o programa de doping da entidade está contaminado pela burocracia, pela política e por métodos pífios de controle.
"As pessoas acham que as coisas melhoraram após Ben Johnson", diz o treinador holandês Henk Kraayenhof. "Mas é justamente o contrário. Ele promoveu o uso de drogas. Ele venceu."

LEIA MAIS sobre doping na pág. 4-3

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